29.6.05

Teatro é drama...

Sinto-me a apanhar migalhas do chão, ajoelhada a apanhar sempre migalhas do chão, a agarrar a todo o pouco que me dás e a transformá-lo em maravilhas…qualquer coisinha chega, dou, dou, dou e recebo migalhas e apanho-as com contentamento, como já fiz tantas vezes, há uma parte de mim que odeia esta permissividade, porque as coisas vão ficando, vão moendo, vão magoando e depois nada é o que é, mas o que é juntamente com o que já foi…

Acordo, é noite, estás virado de costas, há algo nesta sensação que me agonia, que me enjoa, começo a tentar perceber o que é…e vêm-me todas as imagens à mente, as noites de costas, as vezes infindáveis em que fui ignorada, a humilhação, o virar de cara, o ficar à espera, o dar, o nunca receber, as migalhas…pensei que isto já estava resolvido, mas não, levanto-me, não quero saber, vou-me embora, antes a definição de um fim do que nenhuma definição, antes a certeza do que o medo, visto-me, não dás por nada, volto ao quarto para buscar o telemóvel…olho para ti, mexes-te, procuras-me com a mão e beijas-me atabalhoadamente antes voltares a dormir…afinal és tu, desculpa, embrenhei-me tanto nos meus próprios medos, olho outra vez, para nós, lembro-me de tudo o que já passamos, do que te desejo, do que me compreendes, e o mínimo que posso fazer é tentar… é ficar, é deitar-me e enroscar-me no calor da nossa ligação.
O mundo desta vez gira ao contrário do normal, só desta vez o certo, não o é, desta vez, não era o que eu estava à espera, nunca é o que estou à espera, mas sempre para o mal e nunca para o bem…tantas vezes penso que seria melhor partir, então não teria de viver com as dúvidas e indefinições e complexidades, depois olho para ti, e a vontade desvanecesse, espero não estar a fabricar eu este sentimento e se estiver, vale a pena, tu vales a pena…
Ana Isabel Augusto
Estabilidade, onde andas?
Será assim tão dificil encontrar um equilibrio estável? Que nos livre da oscilação dos dois lados que vamos vivendo, durante a vida, durante uma relação, durante todos os momentos...
Há concerteza um oscilar suave, feito de agardáveis compensações. Há concerteza uma interação profunda, em que ambos se rendem, mas nenhum se submete. Em que as diferenças se completam sem se ferir. Em que ambos comandam um ao outro e um para o outro. Os dois cedem, crescem e ninguém se anula. As fraquezas de cada um são obliteradas pela força dos dois. Ambos se estimulam a expandir-se juntos, gerando sempre mais do que a união consome. Nenhum se aproveita do outro, mas ambos usufruem em conjunto. O entendimento é feito de subtilezas que até percebem a inevitabilidade dos desajustes e os aceitam e ultrapassam. Nenhum depende mas ambos querem. Em que os dois são dois e ao mesmo tempo um...
Deve haver. Vai havendo.
Mas, uma dúvida me assalta frequentemente: se tivesse que escolher entre submeter-me a uma paixão, ou comandar sem esse fogo o de outrem, o que eu escolheria?
Não há necessidade de escolher. Ou há?
António Matos

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