3.12.04

Portugal já não é português

Portugal já não é português!

Somos um país com cada vez menos identidade.

A pouca que temos está em vias de extinção.

O que nos distingue, pessoas e seus grupos, é a conjugação de pequenos detalhes, e hoje já temos poucos específicos.

O território é cada vez menos nosso, tanto devido à dissolução do Estado nas instituições internacionais, como pela compra directa de estrangeiros ricos ou pela invasão de emigrantes esfomeados.

O sistema político e a estrutura social em pouco difere da do restante mundo ocidental.

Exército actuante não temos felizmente. Afinal, para nos proteger de quê ou de quem? De nós mesmos talvez…

A moeda é o…euro.

Crescemos economicamente por nos termos aberto ao mundo vendendo o nosso mercado à Europa. A força económica nacional é quase inexistente resumindo-se a um Estado ainda displicente, algumas empresas internacionalizadas e a consumidores ávidos que exibem orgulhosamente produtos com marcas e produção estrangeira. Os chineses vêm aí! Aliás, os chineses estão aí. São a cada vez maior e mais dinâmica comunidade invisível, que já dominam comercialmente os centros das nossas cidades, invadindo-nos com a sua massificada produção, contra a qual somos cada vez mais incapazes.

As nossas tradições já só vivem com os nossos emigrantes, que desprezamos com vergonha pois lembram-nos quem éramos.

Neste mundo bilingue o nosso esplêndido português tem tendência a tornar-se a segunda escolha, e é cada vez mais brasileiro.

A alimentação segue cada vez mais os padrões dos franchising espalhados pelo mundo. E não possuem ementa portuguesa. O mesmo se diga das modas de vestir, e outras.

A cultura que absorvemos e pela qual nos expressamos é quase toda anglo-saxónica e/ou brasileira. Veja-se a TV, cinema, rádio, música, moda, literatura, marketing, desporto, noticiários ou artes plásticas, e agora a W.W.W..

É esta a educação que nos conduz. São estes os modelos que seguimos. Os padrões internacionais.

As nossas convicções, causas e sonhos também nada têm de originais.

Mantemos a velha saudade nostálgica de uma história gloriosa (glória que só nós vemos e saudamos).

Temos ainda as praias (que destruímos por falta de planeamento urbano e turístico de qualidade), e o afamado sol que não é exclusivo nosso.

Mas o único património que realmente temos exclusivo somos nós próprios. É a nossa criatividade e coragem. Mas até esse é ainda diminuto pela longínqua história de repressão politica e pequenez económica que minimiza a confiança necessária ao despoletar da criação.

Acabam por ser os nossos emigrantes a ser os nossos mais destacados e respeitados! Enfim.

Como somos poucos e pobres estamos a ser rapidamente corroídos e reesculpidos por esta chuva dissolvente a que chamamos globalização.

Já não pertencemos ao jardim à beira mar plantado. Agora somos membros da aldeia global.

É a mudança. É a evolução por que sempre clamamos, e que exige o esforço da adaptação. É uma oportunidade também.

Gosto desta união integrativa. Viva o cosmopolitismo.

É sempre difícil enfrentar o mistério, o futuro, mas estou entusiasmado. E você?

António Matos.

P.S. este texto foi originalmente escrito há mais de 2 anos atrás e publicado no jornal Voz de Alcobaça, onde eu colaborava como articulista ocasional...

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