27.8.05

continuação - parte III


A criação de A Ciência, por Sr. Tony.

As supostas diferenças entre religião e ciência. É uma rivalidade de alguns séculos. E também é uma diferença bem ocidental (entretanto exportada com sucesso juntamente com o resto da nossa cultura dominante).

Foi de dentro das instituições religiosas que surgiu grande parte daquilo a que podemos hoje denominar de “movimento científico”. Só que, a certa altura, os novos conhecimentos que se foram produzindo chocaram com o conservadorismo geral da sociedade. Sociedade em cuja força proeminente são as instituições instaladas. Nomeadamente as detentoras do poder do conhecimento, que até há uns séculos eram na sua maioria eclesiásticas.

Veja-se: a concepção astronómica proposta por Copérnico não choca com os ensinamentos bíblicos. Simplesmente o conservadorismo da época tinha ajustado os vários conhecimentos que havia antes. As concepções teológicas tinham-se adaptado ás concepções astronómicas vigentes, de Ptolomeu. E fazer reajustes exige sempre trabalho e tempo. Como as instituições gigantes são bastante inertes, os novos conhecimentos começaram a querer independência e liberdade de tal arrasto. Por isso quiseram separar-se. Logo necessitaram de distinguir-se. A distinção serve para justificação (principalmente auto-justificação) do separatismo.

O mesmo aconteceu depois com as teorias evolucionistas. Eram ajustáveis com os ensinamentos bíblicos. Mas o conservadorismo institucional, nomeadamente das igrejas, não tinham a mesma capacidade de ajuste. Como não se ajustaram as pessoas procuraram novos espaços, mais independentes, para se recriarem…


Insisto na observação: os contos bíblicos, sempre reinterpretáveis, são perfeitamente compatíveis com todos os conhecimentos “científicos” actuais. Basta dar mais relevo a textos menos polémicos no momento ou fazer-lhes uma interpretação menos literal! Só que, a dada altura, as instituições eclesiásticas instaladas, logo de tendência conservadora, preferiram dar crédito a teorias científicas que não implicavam mudanças em relação ao status implantado. E ao rejeitarem essas inovações, por inércia, acabaram por aos poucos repelir os movimentos inovadores. Criaram, por repulsa, espaços de conhecimento autónomos e rivais a que chamamos hoje: ciências.

As ciências conjugam-se nA Ciência.

Foi assim se foram separando as ciências da religião. A religião ( na realidade, alguma sigrejas cristãs daquele tempo) cada vez mais ligada á ideia de atrasado (o que ficou com o que já é passado) e a ciência como progresso.

Á luta que separou as águas não foi entre “tipos de conhecimento”. Foi apenas entre entendimentos novos que queriam espaço para manifestar-se e entendimentos instalados que estavam presos ao peso da inércia (sempre conservadora) institucionalizada.

É essa a única distinção minimamente aceitável entre as ciências e religião. As primeiras são conhecimentso mais recentes. A segunda é a generalização onde se coloca tudo o que é mais antigo. Mas se o mais credivel é o mais comtemporâneo ou o mais antigo, é um julgamento que cada um faz por si, em relação a cada caso concreto...

Até há não muito tempo atrás, e ainda durante bastante muito tempo, a ciência era feita por padres, no contexto das próprias instituições religiosas, nomeadamente das universidades, quase todas dominadas por instituições eclesiásticas. Aliás, quase todos os agentes mais famosos da “revolução cientifica” eram crentes em Deus e fiéis das igrejas locais. E seus seguidores, e formados por elas nas suas universidades!

Aliás, ainda hoje, segundo estudos estatísticos (seria isso ciência?), a maioria dos “cientistas” acredita em Deus e é bastante espiritual!

Com o tempo (só já no século XVIII em diante e ainda de forma pouco definitiva) as coisas acabaram por se distanciar.

E claro que A Ciência também criou os seus próprios mitos. Através de sucursais tais como a história, antropologia, sociologia, criou o entendimento “cientifico”, de que o que não era moderno e “cientifico” (e, por arrasto, ocidental) era atrasado, retrógrado e logo religioso. Crendices mágicas nefastas e perigosas que devem ser combatidas. Nestes processos os radicalismos sectários e maniqueístas são inevitáveis: do lado de “A Ciência” a razão (o novo Deus) iluminada e salvadora, do lado de “A Religião” a conspiração obscurantista. Toda a evolução (muito em voga) foi concebida pela própria ciência como evolução até A Ciência, e para A Ciência. Típico! A igreja católica foi pouco mais longe…

Hoje há cada vez mais auto-intitulados verdadeiros cientistas que, sempre no rasto dessa dinâmica entre cristianismo conservador versus inovações cientificas, fazem campanha (pregam) pró-ciência, anti-religião (indistinta e globalizante) e anti aquilo que gostam de classificar como pseudo-ciências (porque agora todos querem ser do clube vencedor).

Por eles só haveria A Ciência. Algo que só eles, os auto-intitulados verdadeiros cientistas, poderão por em causa, delimitar, definir, e validar (acreditar). E sobre a qual não se deve duvidar! Afinal, é cientifica! Cientificamente provado… Querem que neles confiemos, tais como qualquer padre há 600 anos!

Só não nos dizem que ciência quer apenas dizer: saber, conhecimento. Saber que nada tem de especial que o possa distinguir de qualquer outro. O tão propalado "método cientifico" não existe! Os "conhecimentos cientificos", como quaisquer outros, são fruto de observação, experiência, teorização... Alguns são exprimiveis através da linguagem matemática e dizem-se exactos, o que não deve, de todo, ser confundido com verdade absoluta. Os "conhecimentos cientificos", tal como a própria matemátiva, tem por base axiomas, uma palavra muito útil para evitar dizer dogmas, que são a mesma coisa. E no surgimento de todos esses desenvolvimentos intervém muito o fenómeno das epifanias. No caso chamadas de ideias geniais, provindas do genio racional... Claro que a razão é algo tão sólido como...Deus! Enfim. Poderia resumir esta parte dizendo apenas: o (suposto) “método cientifico”, e a suposta maior veracidade de A Ciência não estão provada cientificamente!!!


Tentem definir ciência! Ou ainda melhor, A Ciência. Tente delimitar esse campo! Defina-o. Peça a dois desses auto-intitulados verdadeiros cientistas que o faça! Não há conclusões e definições globalmente aceites…

E é por isso que o movimento “cientifico” hoje continua em guerra por mais e mais espaço. Se possível acabando com o espaço da religião, o seu rival mais clássico, que toma como um todo indiferenciado e desprezível. Se acabarem com as outras formas culturais de conhecimentos deixa de haver necessidades de definições a que não conseguem responder!

É a nova religião! Os cientistas (titulo que nada quer dizer!) são os novos padres, que nos dizem o que é inteligente e lícito! E não apenas em termos de conhecimento abstracto, ou aplicável tecnologicamente. Hoje A Ciência, através das várias ciências, dá-nos moral, filosofia, ética, jurisprudência, política, etc. Eu diria mesmo: dá-nos religião! E por vontade dos auto intitulados verdadeiros cientistas ainda nos hão-de dar muito mais!

É engraçado.

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