24.2.06

Verdade, relativismo e força!

Nada se parece impor como importante, nada parece ter o poder de valer a pena…vou ficar lentamente quieta a esperar que algo passe, ou não passe, ou desisto, e pronto, fica tudo resolvido…a fraqueza evidente no corpo, no coração, na alma e na vontade, mais uma vez, nem a concretização da auto sustentação…”
Ana Isabel Augusto


A verdade existe. É aquela da qual temos consciência.


A verdade é absoluta. Se assim dela temos consciência.

A verdade, ou falta dela, é minha. E sua! Nossa. De todos e de cada um. É, portanto, relativa.


A verdade sou eu mesmo.


Para uns isto é liberdade. O reconhecimento de que tudo pode ser, se assim o quisermos.
Para outros isso é um inferno!


Porque se tudo é válido e depende de mim, tenho de fazer escolhas. E se não as faço isso também é uma escolha... E as consequências recaem sobre mim.


Porque liberdade é o reverso da responsabilidade. Responsabilidade é arcar com as consequências dos nossos actos. Das nossas escolhas. Responsabilidade pela nossa realização pessoal. Pela nossa (in)felicidade...


E as escolhas exigem confiança.


Para escolher a própria verdade, ou seja, escolher a si mesmo, é preciso confiança em si mesmo. O que não abunda.


A falta de confiança em si mesmo, ou seja, falta de amor-próprio, resulta na tendência para confiar (crer) em outros. E assim, naturalmente, os mais auto-confiantes tornam-se líderes dos outros, que, com prazer, são seus seguidores. E sem grandes problemas, já que isso cria uma dinâmica em que cada um encontra e assume o seu lugar, retirando daí o que quer e precisa, e onde todos acabam por estar cativos uns dos outros.


O verdadeiro desespero reside nos que têm tão pouca confiança que tendem a desconfiar (descrer), não só em si, mas em tudo e todos. Porque para confiar em outros ou em alguma coisa (um ideal por exemplo) ainda é preciso bastante confiança. Esses não escolhem. Vagueiam perdidos sem destino. Desesperada atrás de absolutos! Absolutos que nunca o são, pois o absoluto está na confiança, que falta…


Quando se escolhe confiar em outro exige-se dele a confiança (em si mesmo) que o seguidor não tem. Por isso o outro (o líder) tem de demonstrar força! Aquela força que se demonstra (e advém) de uma concentração que não dispersa, da afirmação que não se questiona, da verdade que não admite dúvidas. Porque a dúvida paralisa. E ao parar há tempo para pensar. E ao pensar abrem-se sempre mais e mais hipóteses, e logo as dúvidas, pois tudo é possível… Essa é a própria essência do relativismo. E é isso que mais aterroriza (medo) o pouco confiante: ter de escolher. O seguidor foge do seu próprio medo. O líder tem de demonstrar aquela força que dá ordem ao caos dos que não escolhem, pois não têm A referência: eles mesmos.


A maioria não quer escolher. A maioria não quer confiar em si mesmos. A maioria não quer amar a si mesmo. Não é por acaso que os grandes líderes (instituições, pessoas e suas doutrinas) advertem: isso é o maior dos pecados: egoísmo! Convém-lhes…


A maioria quer ser escolhido. A maioria quer encontrar em quem confie. A maioria quer encontrar a quem amar. A quem (ou a quê) se devotar! A maioria não se quer unir “indo para dentro”, “conhecendo-se a si mesmo”. A maioria integra-se exteriorizando. Dando-se a “outrem”. E esse outrem agradece pois o seu egoísmo e integração tem tendência oposta. No fundo completam-se.


Por isso as verdades que propõem o auto-conhecimento, o “pensar” por si, o conhecer a própria verdade, “o si mesmo”, nunca têm grande expressão. Ou pervertem-se…


E que mal tem isso? Nem mal nem bem. Cada um com as suas verdades. Simplesmente assim é!


Não serei eu que lutarei para “libertar” uns e outros, pois não são nem mais nem menos livres que eu e quaisquer outros.

Claro que essa é a minha verdade. Um relativismo…absoluto!

1 comment:

Simão said...

É isso Tó, nao tenho muito mais a dizer...

Liberdade para todos

Aquele abraço