4.3.05

Swásthya Yôga x Hatha Yôga. Budismo?!

Uma amiga pretendia ir praticar Yôga e pediu a minha opinião sobre essas "coisas". Nomeadamente a diferença entre Hatha Yôga e Swásthya Yôga. Sendo ela é bastante interessada em Budismo, esta foi a opinião que lhe dei. Espero que possa ajudar mais alguém interessado.

Não sou um especialista em Budismo (nem Hinduísmo). A minha especialidade é Yôga, mais precisamente Swásthya Yôga. E estou no segundo de doze estágios do Curso de Instrutores da Universidade Internacional de Yôga! De Hatha Yôga sei pouco. Nunca pratiquei. Apenas estudei a nível de cultura geral no meu curso, e na bibliografia que faz parte do curso… E é difícil ser resumido e imparcial de algo que é toda a minha vida! Dentro destas limitações aqui vai.

Bibliografia que recomendo sobre Hatha Yôga:

Todos os do Mestre DeRose – (Downloads gratuitos de cerca de vinte livros no site: www.uni-yoga.org)

António Blay – Fundamento e técnica do Hatha Yôga

Shivánanda – Hatha Yôga

A tradição do Yôga - Georg Feurestein

O Yôga - Tara Michael

Yôga e Consciência – Renato Henriques

Todos os de Van Lysebeth

Todos os de Mircea Eliade

Todos de Shivánanda

Yôga dentro de uma cultura…

Para se saber o que se está a fazer tem de saber enquadrar essa actividade dentro da respectiva cultura, que é o seu contexto.

O Yôga desenvolveu-se desde há mais de 5000 anos dentro da cultura a que hoje se chama Hinduísmo. O Hinduísmo é uma tradição cultural muitíssimo diversificada, que influênciou e foi influênciada por quase todas as culturas do mundo. Há cerca de 2500 anos o Budismo nasceu e desenvolveu-se como uma alternativa contestatária à cultura da ortodoxia brahmânica, da qual o Hinduísmo é herdeira. Assim, o Budismo acaba por ser uma heresia do Hinduísmo (confundi-los e misturá-los é típico de leigo ocidental). Acabou por desenvolver-se muito e depois evoluiu fora da Índia (dentro decaiu), expandindo-se para o actual Nepal, Tibet, China, etc. Também o Jainaismo tem um percurso parecido, embora não tão notável.

Como o Yôga é totalmente prático (consiste em praticar técnicas) nunca entra em choque com dogmas e conceitos teóricos alguns. Existe dentro da multifacetada cultura Hindu, dentro dos vários budismos, do Jainismo, até existe Yôga muçulmano (os Sufis, principalmente), e agora até Yôga cristão. Está presente nas várias culturas do extremo oriente. Influenciou directamente o Zen e o Tao (muito influenciado pelo tantrismo também), o Tai-chi e indirectamente as artes marciais em geral. Existem praticantes de Yôga adeptos de todos as religiões e entre aqueles que não são adeptos de nenhuma. Enfim, é fácil perceber o tipo de misturadas e confusões susceptíveis de acontecer...

Yôga vale por si próprio! É uma filosofia prática. Pode ser integrada numa determinada cultura mais abrangente ou não.

Mesmo sem sair do Hinduísmo (a cultura onde o Yôga se desenvolveu nas primeiras fases) as diferenças são imensas. Há muitas modalidades de Yôga bastante diversas, ao ponto de nada parecerem ter em comum. Aliás, dentro do mesmo método há diferenças abissais de escola para escola, de Mestre para Mestre, etc.. Até dentro de uma escola há diversidade. Por exemplo o Swásthya Yôga praticado num dos muitos ginásios em que está presente é tende a ser menos profundo do que o praticado dentro de uma das escolas representantes da Universidade Internacional de Yôga, já que nos ginásios o ambiente e as condições não são as ideais. E mesmo nos representantes da Universidade Internacional de Yôga, ainda que seguindo o mesmo método e padrões de funcionamento, as escolas são todas diferentes, pois as pessoas que as compõem (directores, instrutores e alunos) são diferentes.

O melhor é não confundir tudo! É tanta coisa que ás vezes já não é nada! É fácil imaginar a problemática que pode dar confundir e misturar tudo.

Há que escolher um método, uma escola e um Mestre onde haja empatia e bem-estar, e pronto! Parar de inventar, misturar e buscar. Todos podem ser bons se levados a sério até ao fim.

Dito isto vou-te falar um pouco do Hatha Yôga e do Swásthya Yôga dentro do seu contexto cultural original (a tradição cultural Hindu), o que já não é fácil, nem simples.

O Yôga como Dárshana do Hinduísmo.

O hinduísmo é uma tradição cultural muito diversificada e contraditória. Tem origem em muitas fontes diversas, tem dentro muitos movimentos religiosos também muito diversos, e também admite diversas filosofias “oficiais”. São os chamados Dárshanas, ou “pontos de vista” através dos quais se pode observar (perceber) a existência, e o próprio Hinduísmo. São seis. Para aqui interessam 3: Yôga ; Sámkhya e Vêdanta.

O Yôga é totalmente prático. Não tem teoria. Consiste em praticar diversas técnicas de forma mais ou menos sistematizada até atingir a sua meta que é o Samádhi. Sendo este um estado de hiperconsciência e auto-conhecimento.

A definição formal é: Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduz ao samádhi.

O Sámkhya e o Vêdanta são sistemas filosóficos teórico-especulativos (ao genero ocidental - grego). Consoante as épocas e as escolas um ou outro tende a secundar teoricamente o Yôga, pois este adapta-se a qualquer teoria, já que não tem nenhuma! O Sámkhya é naturalista, mais técnico. O Vêdanta tende a ser espiritualista e mais místico.

O que é que isto interessa?

R: Muito. Todo o enquadramento e ambiente em que se pratica muda consoante a linha que se segue.

O Yôga que existe como dárshana é o Yôga clássico (ou Yôga de Patanjali, ou Ashtánga Yôga de Patañjali, ou Rája Yôga, ou Patañjali rája Yôga...).

Foi codificado pelo sábio Patañjali, cerca do sec. IV a.c.

É de linha Sámkhya (naturalista) e comportamentalmente é Brahmácharya (patriarcal, repressor, anti-sensorial.)

É constituído por oito etapas (angas):

1-Yama - ética

2-Nyama - ética

3-Ásana – posições físicas firmes e agradáveis

4-Pránáyáma- expansão do prána através de respiratórios

5-Prathyahara- abstracção

6-Dharana – concentração

7-Dhyana - meditação

8-Samádhi

Onde surge e se insere o Hatha Yôga?

O Hatha Yôga

O Hatha Yôga surge cerca do século XI d.c. (é medieval), codificado por Gôrakshanatha. Tem fundamentação Tantra (matriarcal, sensorial e desrepressor) e Vêdanta (espiritualista e místico). É o oposto do Yôga clássico!

Ficou com as bases do Yôga clássico e ficou só com os primeiros 4 angas (partes):

1-Yama

2- Nyama

3- Ásana

4- Pránáyáma

Por isto muitos grandes Mestres nem consideram o Hatha como Yôga, já que, por si só, não se propõe chegar ao Samádhi. Só se for como pratica integrada ao Rája Yôga

A maioria das escolas ainda se “esquece” de ensinar as primeiras partes que são as infra-estruturas éticas: Yamas e Nyamas.

Assim, na maioria dos casos, Hatha Yôga acaba por ser ásana (técnicas corporais) e pránáyámas (respiratórios).

Algumas escolas acrescentam kriyás (exercícios de limpeza interna), mudrás, e bandhas (contracções de plexos e glândulas).

Da estrutura do Hatha Yôga não fazem parte Yôganidrá (técnicas de descontracção, reprogramação e abstracção), nem dhyána (meditação). No entanto há escolas que acrescentam o que lhes vai apetecendo…

Hatha é uma palavra sânscrita que quer dizer “força”, ou “violência”, e refere-se ás técnicas extremamente fortes e vigorosas que o Hatha Yôga utiliza, nomeadamente alguns ásanas.

Hoje há escolas de Hatha Yôga conhecidas, como a de B. K. Yengar, que é uma modalidade bastante forte, com ênfase no ásana.

Também existe o chamado Power Yôga (yóga), que entrou muito na moda nos E.U.A, que é uma adaptação para ginásio de um outro método de Yôga, o Áshtánga Vinyasa Yôga (não confundir com o Áshtanga Yôga de Patañjali!). Na maioria dos casos nem é Yôga, é ginástica inspirada no Yôga, muito vendável em academias, mas sem nenhuma filosofia (há excepcões!).

Em Portugal não estou a par de escolas de Hatha Yôga.

Mas no mercado há aí muita escolha. É só procurar a ver o que agrada mais.

O Swásthya Yôga

Swásthya Yôga é o nome da sistematização do Yôga Antigo, pré-clássico, yôga mais completo do mundo.

Foi sistematizado pelo Mestre DeRose, na década de 60 do século passado.

É de linha Sámkhya (naturalista, técnico, não místico), e Tantra (matriarcal, sensorial e desrepressor).

Swásthya é uma palavra sânscrita que significa auto-suficiência. Esta refere-se à auto-suficiência que o próprio Yôga origina, originada pelo auto-conhecimento que vai advindo da evolução, e refere-se também à auto-suficiencia que o método dá ao praticante, devido à existência de regras gerais de execução (que mais nenhum sistema de Yôga tem).

O método é super completo, muito bem sistematizado e bastante fléxivel. Tem 3 fases e 6 etapas.

Se quiser saber tudo consulte os livros do Mestre DeRose que estão no site: www.uni-yoga.org . Recomendo O livro “Faça Yôga antes que você precise”, que é o livro de Yôga mais completo do mundo, expõe o método, e tem um esquema onde discrimina todas as diferenças entre Swásthya Yôga e Hatha Yôga (pags. 48 à 50).

O Swásthya Yôga mais autêntico é o ortodoxo, no qual cada prática é integrada pelas oito partes seguintes:

1. Mudrá, gesto reflexológico feito com as mãos.

2. Pújá, retribuição de energia.

3. Mantra, vocalização de sons e ultra sons.

4. Pránáyáma, expansão da bio-energia através de respiratórios.

5. Kriyá, actividade de purificação das mucosas.

6. Ásana, técnica corporal.

7. Yôganidrá, técnica de descontracção.

8. Samyama, concentração, meditação e samádhi.

Por aqui já dá para perceber algumas grandes diferenças na prática dos dois métodos. E isso é só o começo…

Outras:

O Swásthya Yôga cultiva coreografias na prática individual e na estrutura da aula. O Hatha Yôga não.

No Swásthya não se repetem os ásanas. No Hatha os ásanas são repetidos 3, 5, 25 vezes ou mais.

O Swásthya é o único Yôga que possui explicitamente regras gerais de execução, o que dá autonomia ao praticante.

Enfim, há ainda um oceano de outras diferenças.

Porque é que eu pratico, estudo e ensino Swásthya Yôga? Porque isso me satisfaz! Gosto do facto de ser muito completo, forte e fléxivel. E a Uni-Yôga é sempre um forte estimulo à evolução, não nos deixa acomodar na inércia. O Swásthya é o melhor...para mim!

Encontre um Yôga onde se sinta bem e pratique-o. Ás vezes nem é o Yôga, é o ambiente, as pessoas... Ressalvando que nada é perfeito!

“O Yôga é uma filosofia perfeita praticada por pessoas imperfeitas”

Mestre DeRose


António Matos

4 comments:

Anonymous said...

um beijo grande, menino! ;-)

Anonymous said...

Hello, I really liked your article, it is very accurate and concise, besides, I had a while wondering what Swasthya was!!

I would like to add that HATHA, to me is balance… HA is the sun, and THA is the moon

Even though I agree with you, that Hatha itself can not take you to the samadhi stage... I wouldn’t consider it out of yoga, or a synonym of neither violance nor strong physical sequences necessarily. It has endless variations that are more appropriate for people with limitations (either mental or physical).

I have practiced it since I was very little, and I have seen so many people that start with it as a way to regain and maintain their health, that end up searching for the next stage, because they feel different and better. You would think “…big deal!!” but some of those persons are very skeptic, and can not evolutionate, because of their lack of strength, confidence and faith, so yeahh… to me it is yoga, and it is great. (I also practice, another type of yoga which fills what Hatha can not reach)

Hope you don’t mind me writing in english... it would have been Portuñol if I had tried…

Ana Matos -Dominican Republic (saw you at Hi5 yoga group)

Anonymous said...

Olá António!

Parabéns pelo teu blog que está super útil a que necessita duma boa informação sobre Yôga.

Desejos de continuação de bom trabalho para a vossa Unidad Asturias e recebam o carinho da Unidade colega na Amadora - Portugal :)

SwáSthya!

Anonymous said...

Olá. Em Lisboa, nos Tibetanos, há aulas de hatha ioga.