Discussões, debates e (des)entendimento!
“Só deveríamos discutir com quem estamos de acordo” DeRose.
Cada vez entendo melhor esta sentença. Algumas das discussões mais agradáveis que tenho são baseadas em entendimento e concórdia. E nessa base é mais fácil aceitar algo mais. Um acrescento e desenvolvimento do que já sabemos. Quiçá até uma revisão aos nossos paradigmas... E tudo mantendo uma agradável sensação de comunhão entre os intervenientes.
Pelo contrário, as discussões que se baseiam na diferença e na discórdia rapidamente se transformam em debates. Em verdadeiros embates, que são guerras de palavras. Começa-se com 90 % de concórdia e pouco tempo depois está-se em 99% de …desentendimento! Muito possivelmente perde-se até qualquer base comum, mesmo básica, que permita sequer a comunicação. E quando as palavras acabam...a emocionalidade despoleta e a hostilidade ganha espaço. Dos argumentos rapidamente se passa aos insultos meramente pessoais, cujo objectivo é destruir o oponente (já que os argumentos não foram procedentes no intuito de vencê-lo, tenta-se minar a credibilidade pessoal, rebaixando-o perante o próprio julgamento...). Perplexidade, desespero, incapacidade de comunicação…E da emocionalidade até à tentação de usar a força física para impor uma ordem, vai um passo pequenino. Se é entre amigos que estão num debate tipo epistemológico, tudo fica com um momentâneo “vai pró car###”. Algo tipo disputa de marido e mulher. Uma "peixeirada"! Depois faz-se as pazes e até "fica "melhor". Mas, e se for um choque cultural, de proporções globais? Aí intervêm os tanques, é certo!
Não há pior caminho para encontrar consensos e concórdias. Ainda mais infrutífero se o objectivo é convencer. Convencer exige uma sedução emocional...um elogio ao ego, por exemplo. É a emoção que seduz, une e agrega…
No final desses embates cada um sai mais convencido de si mesmo. Mais convicto das próprias crenças. Ou pelo menos daquelas que esgrimiu. E é só. Aliás, parece ser, quase sempre, esse o propósito. Afirmar-se no confronto com o outro, contra o outro. O debate tem uma natureza reaccionária.
Esse tipo de discussões, mesmo que se digam racionais e entre seres razoáveis (quase sempre é coisa de homens) servem sobretudo para exaltar os egoísmos. E reforçá-los. Testamos as nossas convicções, mas apenas para reforçá-las na dialéctica do confronto, em que a razão serve a vaidade de cada um, argumentando cada sentença, e dispersando em qualquer sentido que seja conveniente. Não se trata de uma busca pela "A" verdade. Simplesmente pela verdade que faria ganhar a própria discussão, para gáudio do gladiador!
A discussão (dizer e ouvir) feita de argumentação dita racional, pouco mais faz do que dispersar a partir de um ponto qualquer dirigindo-se a qualquer outra em direcção. E a maioria das vezes, a discussão rapidamente passa a ser um debate (embate), em que cada um parte quase de acordo com o outro e rapidamente estão cada vez mais afastados devido à defesa, cada vez mais extrema, das suas diferenças. O confronto tende ao extremismo.
Para quem quer partilhar e não convencer, passado pouco tempo dá vontade de acabar com a coisa e declarar derrota (por cansaço) : "ganhas-te, tens razão(neste caso: razão = verdade, estar certo)". "Leva a taça" (uma satisfação interior de esperteza)... Muito para trás ficou o intuito de partilha de diferenças com vista ao entendimento mútuo, enriquecimento com outros pontos de vista ou até a mera excitação do pensamento com vista a sair da estagnação mental. Muito para trás ficou a boa educação, o bom senso e, principalmente, o bom humor.
É bom sinal poder gastar tempo assim...
2 argumentistas podem disputar uma verdade dizendo coisas opostas, querendo dizer o mesmo, apenas argumentando por vaidade, à qual a sua racionalidade serve.
Por exemplo:
Diz A – “Nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma.”
Diz B - Tudo se ganha, tudo se perde, nada se transforma.
Vai dar exactamente ao mesmo!
Ao menos no Yôga é simplesmente: pratique. Medite…Claro que uma discussão, ou mesmo um debate, não impedem que surjam boas meditações…
4 comments:
Não concordo com o exemplo dado. A frase A diz respeito a tudo se manter basicamente o mesmo, apesar das mudanças ocorridas. A B diz que tudo é permanentemente diferente, já que é necessário um ciclo perpétuo de criação e renovação de coisas diferentes. A diferença é subtil mas existe...
Para serem equivalentes a B deveria ser: "tudo se ganha, tudo se perde, tudo se transforma", o que altera a interpretação da frase.
Penso que um exemplo melhor para o tópico será o de duas pessoas que não querem saber de "verdades":
- eu acho que já está tudo explicado, não preciso disso para nada;
- eu acho que há imenso por explicar, no entanto constato que não necessito desse saber para continuar a viver.
As atitudes na prática são iguais (não querer saber de explicações), mas derivam de interpretações fundamentalmente diferentes.
P.S: Diz-se gáudio e não gládio... lol;
Sentença é estrangeirismo (brasileirismo americanado) :P
Não concordo com o exemplo dado. A frase A diz respeito a tudo se manter basicamente o mesmo, apesar das mudanças ocorridas. A B diz que tudo é permanentemente diferente, já que é necessário um ciclo perpétuo de criação e renovação de coisas diferentes. A diferença é subtil mas existe...
Para serem equivalentes a B deveria ser: "tudo se ganha, tudo se perde, tudo se transforma", o que altera a interpretação da frase.
Penso que um exemplo melhor para o tópico será o de duas pessoas que não querem saber de "verdades":
- eu acho que já está tudo explicado, não preciso disso para nada;
- eu acho que há imenso por explicar, no entanto constato que não necessito desse saber para continuar a viver.
As atitudes na prática são iguais (não querer saber de explicações), mas derivam de interpretações fundamentalmente diferentes.
P.S: Diz-se gáudio e não gládio... lol;
Sentença é estrangeirismo (brasileirismo americanado) :P
Dois samurais encontram-se à beira de uma ponte vindo de sentidos opostos. Quem tem precedência? Como resolver o conflito iminente.
O código do Bushido reza a seguinte solução:
- Se o teu adversário é mais forte do que tu, para quê lutar;
- Se o teu adversário é tão forte quanto tu, para quê lutar;
- Se o teu adversário é mais fraco do que tu, [pois] para quê lutar.
Assim se resolviam os quas'insanáveis conflictos.
Só não entendo porque é que andavam sempre à catanada.
[um blog pedagógico, ahn!!, com direito a revisor e tudo unhh!! Fish!]
Ao shôr PMM, devo agradecer pelas correções do português, uma lingua que muito prezo, e que, embora seja algo "vivo", defacto, não merece evoluir por atentados como os que ás vezes lhe faço!
(A minha mãe é professora de Português e Latim e fica assombrada...)
Goiaoia (!!!): boa historieta. Essa coisa dos samurais e das artes marciais do extremo oriente sempre me atraiu. Têm as suas teorias, mas acima de tudo são bastante praticos. E isso torna tudo mais simples. Afinal, se é necessário saber quem está certo ou é melhor, basta ver quem fica de pé!
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