1.5.12

O Jacobinismo lusitano!

Cá em Portugal, não importa muito a época, não importa muito o regime, nem as ideologias que supostamente defendem. No centro de tudo e todos está o Estado. O sonho da maioria da população é ir trabalhar para o Estado. E a culpa de tudo são os gerentes do Estado (políticos e burocratas). E como nas democracias são eleitos os que prometem mais "direitos" e "benefícios" há a tendência a dar cada vez mais Estado, até porque (aparentemente) não sai do próprio bolso. Há cada vez mais Estado central e regional, e cada vez mais regulamentos (de "segurança" e fiscais e para tudo e mais alguma coisa...), e subsídios, e bolseiros, e reformas antecipadas e "acumuladas", e "jobs for the boys" partidários, e cunhas para a prima e a amiga da tia...E lobbies, gays, opus deis, maçónicos e corporativos. E "politicas de crescimento e emprego". E negociatas. Até os "empresários privados" vivem do Estado , das autarquias, da UE.  Pouco importa se isso é feito à custa dos Euros que os Alemães para cá mandam para desenvolver isto, ou se é feito, pura e simplesmente, a crédito impagável. Que se fod... a próxima geração! Logo se vê. E a culpa é sempre dos que vieram antes, ou depois, ou dos outros. A culpa é da direita, diz a esquerda. A culpa é da esquerda, diz a direita...Fixe pá!

Por mim, que não me considero de direita nem de esquerda, nem sequer do "centro", nem comunista nem liberal, tanto me faz. Em teoria qualquer ideologia é perfeita, e na pratica o que conta é o resultado, é o dinheiro disponível, as liberdades de que se goza. O problema não é haver muito ou pouco Estado, e estatismo, a questão é que esse Estado e estatismo sejam competentes. E o Estado, os políticos e os burocratas, não parecem ter muito tino. Parecem ter tão pouco como os eleitores que os lá põem. E convenhamos, os cidadãos portugueses, indivíduos e empresas "privados", também não são muito melhores que os tugas que se metem no público. Só que no público têm mais margem para errar e não pagar. Ou tinham, porque neste capitalismo-socialista-corporativista-de-mercado já ninguém sabe muito bem onde é que o público e o privado começam e acabam, e quem é que faz e deve fazer seja lá o que for! O certo é que muitos sangue-sugas estatais (de cima a baixo nas hierarquias) têm pouca e má produtividade, e responsabilidade. Os competentes são rara e parcamente recompensados, e os que só estorvam vão ficando, e enchendo...Alguns (poucos) até têm muita criatividade, e audácia, e competência, o que é sempre mais fácil com o dinheiro dos outros.  E tudo isso é um problema. E é um problema tanto maior, quanto maior for o Estado. E como este Estado estatista é "democrático" o problema vai acabar com a "democracia. 

Veja-se este governo, supostamente de centro direita, entre o liberal e o conservador, de “novos políticos”, de outra geração, americanizados, até há quem os considere “neo-liberais” (inclusive alguns dos próprios). 

Nem TSU, nem reforma autárquica, nem privatizações (só alienação de empresas lucrativas e estratégicas, para Estados asiáticos comunistas e islâmicos), nem revisão de contratos públicos com PPP e Empresas mistas e privadas altamente lesivos para Estado e consumidores, nem encerramento de organismos públicos, EP, PPP, institutos e fundações excessivos, nem diminuição de impostos (pelo menos para produtores e exportadores), nem despedimento de excesso de trabalhadores (e serviços) da função pública central e regional, nem reforma na justiça e forças policiais que permitam julgar e condenar os responsáveis pelo BPN, e outros afins… 

A única coisa que o Gov conseguiu fazer até agora, e só porque a Troika obrigou, e o povo está em sentido de joelhos cheio de medo e compreensão, foi penalizar indiscriminadamente os trabalhadores da função pública, os reformados, e também alguns trabalhadores dependentes privados (só os pequenos e dependentes), e, por essa via, empobrecer a população, e destruir a classe média

Em vez de diminuir o Estado, em vez de despedir os incompetentes, os excedentes e os inconvenientes, penalizou todos sem distinção, sem mérito nenhum envolvido, dando a assim mais um "incentivo à produtividade". E até aos clubes de futebol perdoam dividas! Ou seja, ficamos com a austeridade, mas sem "reformas estruturais", aquelas de que todos falam, com as quais a maioria está de acordo, mas que nenhum parece ter coragem de sequer tentar implementar. Aquelas que fariam a austeridade valer a pena. Até o Sócrates tentou (com os professores, lembram-se?), mas reformas e sacrifícios, em Portugal, é para o sector estatal do vizinho.  Com umas manifestações e sondagens negativas todos recuam! Já no tempo das "vacas gordas" (do Guterres, o pior governo da 3ª Républica, sem maioria no parlamento, fraco, que governava por sondagens e referendos, e dava uma no cravo outra na ferradura) era assim...

Em Portugal, todos querem ir para o Governo, o Estado é de uma atracão fatal, e acaba por ficar tudo mais ou menos na mesma. Desde socialistas, comunistas, conservadores de direita, democratas, fascistas, Igreja, e até “liberais”… todos querem ir para o Estado, mandar no Estado, e através do Estado mandar nos outros. É o jacobinismo lusitano! 

E entretanto vi uma entrevista interessante, que tem tudo a ver com isto. Excerto: A economia dos Eua já não é baseada na capitalismo privado de tendência liberal, é “Uma espécie de economia socialista, mas de um socialismo para os ricos. O oligopólio de um punhado de grandes bancos é essencialmente protegido pelo governo.” 

E porque isto não é um fenómeno só português, e é complexo, deixo a sugestão de um livro que li há pouco tempo: Os idealistas e o poder


É sobre a esquerda Alemã, e francesa, e a sua ascensão ao poder.

And here is the rest of it.

9 comments:

Jorge Ventura said...

Subscrevo a análise e lamento como tu a oportunidade perdida que é uma crise destas para fazer reformas estruturais.Já me desiludi , só o BPN mostrou logo como é que estamos de liberalismo.
Também acho que o que nos falta mais é a reforma do sistema eleitoral ,para podermos passar a ter deputados que respondam perante o seu eleitorado directo ,e mais pessoas e menos partidos , mas isso nunca vai acontecer.
Dizes que o governo do Guterres foi o pior de sempre, olha, eu passei os governos Sócrates fora do país sem acompanhar bem as coisas, e quanto mais aprendo sobre o homem e o que se passou mais me arrepio. Quanto a mais um regresso dos jacobinos , no Domingo vai um para Presidente da França, vamos lá ver o modelo em acção outra vez.
Gostava de ler esse livro que referes , eu pessoalmente tenho muitíssimo medo de idealistas com poder.
Um abraço

António Matos said...

O livro está muito centrado na trajectória do joschka fischer, um gajo que fez o percurso desde o activismo de extrema esquerda radical, depois verdes alemães, e desde os verdes chegou a ministro dos negócios estrangeiros em gov. coligação, no qual defendeu a intervenção da Nato no Kosovo...Já estás a ver as voltas e baldrocas que um jovem idealista chega a dar para ir para o poder, e no fim de lá chegar!

E o P.Breman explica em detalhe a complexidade destas movimentações, na psique dos movimentos esquerdistas...É interessante

Anonymous said...

É perigosa a ideia de que todos os partidos,políticos e políticas são iguais.Seria indiferente quem governa.Seriam todos bons ou todos maus.Constatamos que não é assim.Ressalvando que todos erram,não é indiferente ter governos de direita,do centro ou de esquerda.
As políticas são as determinantes para um bom ou mau resultado.Quem governa para a grande finança desfavorece sistemáticamente quem trabalha,que é o grosso da população de qualquer país.Em Portugal,hoje,temos o pior governo depois do 25 de Abril.Guterres,não obstante alguns disparates, comparado com estes salteadores foi um "santo". E mesmo o Sócrates,comparado com esta quadrilha,não passou de um "anjinho".
Passos Coelho e o seu bando de malfeitores,na esteira dos seus mestres alemães,e restante direita que tem dominado a UE nestes últimos 20 anos,com as suas políticas a caminho do selvagem,estão a fazer da europa uma África de brancos. Claro,claríssimo que a continuar assim(espero que não)a Alemanha será a Africa do Sul do apartheid.Vós os jovens sereis os negros de tez branca dos guetos.
Vós,que sois jovens,é bom que tomeis consciência,é bom que estudem e relembrem que o nazismo e fascismo e suas tenebrosas consequências,são do tempo do vossos pais e avós(há muito pouco tempo) e ainda estão vivos por essas bandas,apenas esperam uma oportunidade para se afirmarem.

António said...

Não se trata de “santos e pecadores”. Acredito que muitos dos políticos até tem boas intenções, e alguns até são muito bem formados, e têm competência. Até acredito que o Guterres seja “bom carácter”. O que digo é que ele governou no “tempo das vacas gordas”. Com a economia mundial em ascensão e a puxar, e com os fundos comunitários (ou seja, os dinheiros dos Alemães, francês, Ingleses, etc). Em 6 ou 7 anos a única coisa que fez foi meter-nos na moeda única-Euro, o que ainda se está para ver se foi bom ou mau. Ele foi um líder fraco, num sistema fraco, num governo fraco, numa altura em que até se podia ter feito alguma coisa, pois era mais fácil…Cada vez que pensava em fazer alguma coisa pedia várias sondagens e em caso de dúvida fazia-se um referendo! Não reformou nada, apenas serviu clientelas.

Mas sim, os 2 anos de Durão-Santana foram igualmente tristes…

Agora, com a economia ocidental péssima, a puxar para baixo, e os fundos europeus em cheque, e sem o credito, e os credores a clamar pelo pagamento das dividas, é mais difícil governar, e pior ainda, fazer reformas estruturais.

Não digo que o capitalismo e os “capitalistas” sejam bonzinhos, ou que haja filosofias políticas perfeitas, ou que os países nórdicos sejam anjinhos. Haverá sempre excessos, erros, desequilíbrios, crises e aproveitadores. Mas digo SIM que são todos mais ou menos a mesma coisa, na pratica, para bom e para mau. E não foram só o Facismo e Nazismo que tiveram consequências devastadoras. O Comunismo (o real, não o teórico), que aliás é muito parecido ao Nazismo, também teve.

E não, a direita não dominou a Europa nos últimos 20 anos, a não ser que o Guterres, o Sócrates, o Zapatero, os verdes alemães, e outros, sejam “direita”. Sim, a culpa não é da esquerda, nem da direita, que nem sequer existe me Portugal, nem dos liberais, que são meia dúzia de teóricos. É do “centro”, do “centro democrático”. É nossa, da maioria, e não há escapatória.

De qualquer forma, o que me interessava pensar (e discutir) é esta obsessão pelo Estado, a fazer tudo, a meter-se em tudo, a gastar tudo…seja na ditadura, seja na democracia, seja com esquerda seja com centro direita…

Anonymous said...

Tó:
O comentário que saiu anónimo,não sei como,é meu.
Discordo completamente das tuas afirmações.Vejo aí muita confusão.

1ºcomunimo não tem nada a ver com nazismo,nem na teoria nem na pratica.
Nazismo e fascismo são preversos a começar logo na teoria.´

2ºo dinheiro que veio da UE não foi à borla.Pagamos-lhes com o desmantelamento da nossa economia-industria,pescas e agricultura.

3ºos alemães foram os grandes beneficiários dito e do euro,feito à medida deles.

4ºhá uma coisa em que tens razão.Fomos culpados por ter entrado nas condições em que entrámos.Os partidos da oposição e não só,na altura foram contra.

5ºO estado- a direita e o capitalismo português,falam contra o estado mas sempre viveram à sombra e à custa do estado,verdadeiros chulos.

A esquerda em geral defende um estado que no mínimo proporcione a todos os cidadãos:ensino aos diversos níveis,cuidados de saúde,segurança social na infância,na pobreza,velhice e desemprego,na justiça.
Deve também assegurar e controlar os recursos indispensáveis estratégicos ao bom funcionamento
da economia.
Deve regular a economia e fiscalidade de modo a diminuir drásticamente as profundas desigualdades sociais existentes.
A direita,mais não pretende ,como está bem à vista senão apoderar-se dos recursos públicos e do estado para os pôr ao seu serviço:queres saúde,pagas ou morres;queres ensino,pagas ou não tens;queres reformas pagas às seguradoras e aos bancos;estás desempregado,isso é porque naõ queres trabalhar seu calão; queres justiça,pagas.
Queres liberdades,tens a rua e polícia de choque.
E por aí fora.....

António said...

Para mim o Nazismo alemão, o Fascismo italiano, português e Espanhol, o Maoismo (sobretudo a "revolução cultural"), o estalinismo, e outros ismos afins, são mesmo afins. Muito parecidos na pratica, e por isso mesmo tão rivais! Foram todos terríveis. E nenhum surgiu do nada...Portugal é um país pequeno e passivo, até o nosso facismo foi (relativamente) moderado.

Lá porque os Facismos/comunismos são ambos uma bela merda não me vou refugiar num contrário pseudo "liberal" que também é utópico, irrealista, e, na pratica, perverso.

E sim, o Socrates e o o Passos são mais ou menos a mesma coisa, e fazem mais ou menos o mesmo. O "centrão" português, democrático, é clientista, e os empresários portugueses são uns chulos que vivem de subsídios, e sempre agarrados ao Estado e à UE, etc.

Agora uma coisa já percebi, se estou à espera de esquerdistas, direitistas, liberais, ou do Estado, seja lá ele controlado por quem for, para defender os meus rendimentos e liberdades estou fodido.

Não sou contra a existência do Estado. Mas é triste tanta obsessão e secundarismo em relação ao Estado, que só acaba por servir quem nele manda. E por isso todos querem mandar nele...

E os cidadãos, individuais, não podemos nem devemos nada? Somos tão miseráveis que temos de depender e chamar o Estado para tudo? Seja atrás de Reis, da Igreja, seja atrás de conservadores de direita, ou revolucionários loucos de esquerda, vai sempre parar tudo a uma salvação através do Estado, que nunca é salvação nenhuma. Que "liberdade" de merda é essa. Que merda de povo somos?

Jorge Ventura said...

Como é que o Sócrates e o Passos são a mesma coisa , ou talvez ainda ele tenha sido um anjinho perante estes "salteadores"?
Não concebo como que se pode dizer que um governo que ao longo de 6 anos colecciona casos que vão desde a simples incompetência à corrupção mais atroz e deixa o país tecnicamente falido é pior que um que está no poder há um ano , condicionado pelos estrangeiros que emprestam dinheiro e apostado em pelo menos acertar as contas do Estado.

Enquanto é para gastar dinheiro do contribuinte e dos filhos e netos do contribuinte , tudo passa desde que não se toque nos direitos das pessoas ...certas.
Quando é para parar de gastar o que não há e pôr ordem nas contas , são uns salteadores .

E gostava ainda de fazer as seguintes observações ao comentário prévio:

1º- "comunimo não tem nada a ver com nazismo,nem na teoria nem na pratica.
Nazismo e fascismo são preversos a começar logo na teoria."
- Têm em comum o facto de serem ambas ideologias totalitárias , de partido único , na teoria e na práctica.E pelo menos para mim o comunismo também é perverso a começar logo na teoria , isso já são posições pessoais,mas o totalitarismo é objectivo.

2º"o dinheiro que veio da UE não foi à borla.Pagamos-lhes com o desmantelamento da nossa economia-industria,pescas e agricultura".

O desmantelamento foi a opção escolhida pela maior parte dos portugueses em alternativa à reforma e inovação.E os quadros comunitários de apoio despejaram em Portugal muitos milhões que se não foram à borla foram a juros e condições quase inacreditáveis, grande parte desperdiçado.
Economia desmantelada é a da Somália.

3º"os alemães foram os grandes beneficiários dito e do euro,feito à medida deles".
Portugal beneficiou durante uma década de fazer parte da moeda única. Se a economia e os governos não souberam gerir melhor essa vantagem enorme a culpa não será do euro. E parece que é um problema os alemães serem os grandes beneficiários do Euro , parece que ou têm que beneficiar todos ou não pode beneficiar ninguém , e um país defender os seus interesses é criticável.

4º"há uma coisa em que tens razão.Fomos culpados por ter entrado nas condições em que entrámos.Os partidos da oposição e não só,na altura foram contra."
Só me lembro do PCP ser contra , o resto todo , tanto quanto me recordo , bateu palmas e o Soares é um herói.

5º"O estado- a direita e o capitalismo português,falam contra o estado mas sempre viveram à sombra e à custa do estado,verdadeiros chulos."
Aqui estamos de acordo , mas aplica-se à direita e à esquerda , ou melhor , PSD e PS, os que governam. Fica a questão de saber se o PCP um dia fosse governo se ia ou não viver à sombra e à conta do Estado.
Cumprimentos

Jorge Ventura said...

E já agora as desculpas tardias por me ter intrometido assim numa discussão que não era comigo :)

António Matos said...

Jo, és sempre bem vindo. Sem desculpas. Só argumentos, que o pessoal está aqui é para pensar, é só isso.