11.12.04

Inspiração e Orientação

Um Mestre de Yôga – Orientação e inspiração.


(Sobre o sentido e necessidade de ter um Mestre para trilhar caminho filosófico do Yôga.)

Os Shástras tendem a indicar que o Yôga deve ser praticado (vivênciado) sob orientação de um Mestre.

A prática aumenta a força e poder do praticante. Se esta não for e canalizada para a auto-superação, para a transcêndência do próprio ego-personalidade, para uma consciência expandida e mais lúcida, acaba por reforçar ainda mais esse complexo ego-personalidade no sentido de um ainda maior egoísmo. O praticante pode perder-se na aventura dos siddhis, ou em delírios subconscientes, que confunde com a tão ansianda libertação hiperconsciente. A evolução é sempre interior e subjectiva. É feita de subtilezas cada vez mais subtis! É fácil ceder aos anseios do próprio ego (sobrevivência, reconhecimento, prazer, etc), e justificarmo-nos a nós proprios com necessidade de liberdade. Liberdade limitada e ilusória. Libertinagem do próprio ego na realidade. Lidar com o ego não é fácil. Não é fácil lidar com o nosso e nem com o dos outros. E eles estão todos ligados interferindo sempre uns com os outros. Não é fácil controlar os processos evolutivos, nem sequer condicioná-los educando-os. A tudo isso o ego resiste. Mas isso é Yôga. Disciplina, transcendência, lidar com as limitações e tendências do ego...

Em todo esse simples mas nem sempre fácil processo um Mestre tem um papel fundamental. Um Mestre e todos os que nos rodeiam e que connosco partilham a vida mais proximamente. Especialmente os outros instrutores e colegas com quem praticamos, a família, entes afectivos, amigos, e os média em geral. Todas essas influências vêm em conjunto e quase nunca num sentido comum. As influências são diversas e contraditórias, o que cria conflitos internos em todos nós, quando nos obriga a fazer escolhas, já que não podemos fazer e ter tudo e todos ao mesmo tempo. A questão não é a de ter ou não ter Mestre e influências externas. Elas são inevitáveis. A questão é simplesmente a de escolher ou não caminhos a trilhar e influências primordias para nos orientarmos e concentrarmo-nos numa realidade que é infinitamente diversa e dispersiva.

Ao escolher um Mestre estamos a fazer uma escolha. Estamos a eleger uma influência acima de todas as outras. Entre as muitas e diversas influências vamos dar mais importância aos conhecimentos de um Homem, no qual reconhecemos a competência para nos orientar. Entre as muitas possibilidades de agir que existem escolhemos deliberadamente dar mais importância à perspectiva que aquela pessoa expõe.
É uma relação de identificação e confiança.

É a identificação que nos faz escolher aqueles de quem queremos estar próximos. Queremos ser como eles, ou já somos. Dessa identificação de fins e meios nascem as uniões. Neste caso a União de um discípulo com o seu Mestre e vice-versa. Identificação quanto aos fins (Liberdade, Sámadhi, divulgação e dignificação do Yôga, defesa dos seus praticantes e profissionais, etc) e quanto aos meios (métodos: de Yôga, didáticos, profissionais, etc).

Sem essa identificação a união entre Mestre e discípulo não existe ou desfaz-se. É uma relação de plena liberdade de ambas as partes. Talvez a mais livre de todas, já que basta uma das partes não querer continuar e ela dissolve-se instântaneamente, ou nem chega a existir.

É também uma relação de confiança, pois o discípulo pede orientação pois conclui que o Mestre, pela sua experiência, conhecimento e por tudo aquilo que já alcançou tanto interiormente como externamente, está capacitado para ajudar o discípulo a também ele alcançar tudo isso com o qual se identifica e também quer.

As formas como os Mestres ajudam os seus discípulos são também múltiplas. Dependem do Mestre e de cada discípulo. E de cada momento e situação. A maioria usa todos os meios que sabe e pode. Mas o principal veículo desse processo é a inspiração. Ao inspirar (literalmente) trazemos o mundo para dentro de nós, assimilando-o e tornamo-nos também nesse mundo. Ao observarmos o Mestre inspiramos e ganhamos força. Ganhamos vontade de ir em frente e enfrentar as dificuldades, pois percebemos no seu exemplo de vida que vale a pena trilhar o caminho.

A relação (opcional) entre Mestre e discípulo nem sempre é fácil, da mesma forma que nem sempre é fácil gerir as relações entre pais e filhos, ou entre parceiros afectivos, ou entre amigos, ou qualquer relação... Às vezes as relações são mais afectivas, outras vezes mais profissionais. Umas vezes quentes outras frias. Às vezes mais próximas outras mais distantes. Ás vezes incompreensão outras vezes uma grande partilha e cumplicidade. Flutuam, como a própria vida. Mas existem sempre e apenas se ambas as partes o desejarem.

No meu caso DeRose não é apenas o meu Mestre de Yôga. É também líder. Líder de uma organização de que voluntariamente faço parte e que visa divulgar, dignificar e perpetuar o Yôga em geral e especialmente o Dakshinacharatantrika Nírishwarasámkhya Yôga.
Como em qualquer orgamização há regras, ordens, hierarquias, etc. Como tudo é de filiação voluntária e livre não agride viver nos condicionalismos comuns de estar dentro de uma instituição. Alguma insatisfação e desssintonia basta cada um seguir livremente o seu caminho.

Muito mais haveria a dizer sobre um Mestre de Yôga.

Muito mais há a dizer sobre o Mestre DeRose, que é tudo isso e muito mais para mim.

Mas por agora chega.

Cada um vá escolhendo o seu caminho, no respeito pelas escolhas dos outros.

Todos os caminhos vão dar a todo lado, mas ninguém os trilha a todos.

António Matos

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