8.9.05

Continuação

E os Yôgis que já transcenderam o ego?

O Yôga serve para transcender o ego. O Yôga é ser algo além do ego. Mas o ego continua a existir!!! Os iluminados são diferentes em quê? Como é a transcendência tangível e susceptível de ser reconhecida e valorizada?

Diria que a procura de diferenças, de utilidades e reconhecimento é um sinal óbvio de egoísmo (consciência egóica).

A transcendência é…transcendente! Não se concretiza.

O que existe em sociedade são egos.

O ego continua a existir, sendo a sua própria ilusão.

Os Yôgis transcenderam o ego, não o destruíram ou anularam. Nem o abandonaram.

Os Yôgis continuam a Ter um ego. Mesmo que não se identifiquem como sendo isso.

E é esse ego que é participante do mundo, com as suas perspectivas, limitações e objectivos.

Posso ser iluminado, mas quem participa em sociedade e é reconhecido e valorizado (mesmo que negativamente) é o António Matos.
Não o “simplesmente é”!


Mas então qual a relevância social da iluminação?

Não tem!

Repito: Transcendente é transcendente! Não é algo do mundo fenoménico.

Por isso alguns Yôgis vão para uma gruta na montanha, tornam-se eremitas e procuram que o seu ego participe o mínimo possível da Vida. Transcendem o ego e demitem-se da Vida. Fazem tudo o que é possível para fazer o mínimo possível! Para não chatear e não se chatearem (de certa forma mantém algo de egoísta). O que queriam mesmo seria simplesmente contemplar a existência, mas têm que aguentar também o existir!

Outros fazem algo parecido mas mantendo-se mais dentro da civilização. Afinal, tudo é natureza (Prakriti), montanha ou cidade! Para quê esperar a grande dissolução sozinho e pobre. Ao menos ainda desfrutam qualquer coisa pelo caminho.

A maioria, no entanto, faz opção diversa. A maioria opta pela via…egoísta!

Há muitos que têm uma visão teleológica da evolução. Acham que todos estamos a progredir para alguma coisa. Para uma iluminação geral, ou coisa que o valha!( Parece-me, no entanto, que esta visão da história é contraditória com a versão de transcendência que dei no inicio: “simplesmente é, sem principio nem fim…”)

Logo o seu conhecimento iluminado é fulcral para continuar e acelerar esse processo. Por valorizar tanto o seu conhecimento querem partilhá-lo e expandi-lo, para que mais egos se libertem também. Muitos tornam-se instrutores de Yôga.

E também há muitos que não são movidos por tão nobres ideais. Simplesmente gozam do poder que os conhecimentos adquiridos sobre si e sobre o mundo lhe conferem. Aí o conhecimento transcendente acaba por servir para reforçar o próprio ego! (Tudo isto é um pouco paradoxal)

O facto de já não se identificarem como sendo o ego permite que o tratem com menos medos. Afinal, não é sobre si que as consequências kármicas recaem! É fácil lançar o ego numa consolada libertinagem, soltando-o de preconceitos e limites e permitindo que ele se satisfaça em desejos e sonhos tão reais como ele próprio! (Por isso o Yôga deve ser precedido de uma estruturação ética do Yôgin).

Independentemente das boas intenções ou falta delas, os “transcendentes” têm e usam o seu ego. Ou são usados por ele…Aliás: a própria vontade de transcender as limitações do ego costuma ser uma ambição bastante egoísta!

Enfim!

É engraçado observar como cada um lida com todos estes conceitos (União, liberdade, ego, etc.), especialmente no próprio contexto do Yôga.

É muito comum neste meio ver gente contra tudo e todos, sempre prontos a disparar uma histérica acusação de ego e condicionamento em relação a qualquer afirmação que se faça. Qualquer coisa, especialmente que tenha a ver com regras e ordem social, já pode contar com alguém do contra. Sempre em nome da liberdade claro. Qual liberdade, ou de quem? Sabe-se lá…deve ser a do Yôga, a transcendente!

Outra coisa bastante interessante são os casos que anunciam a viva voz a sua libertação/iluminação: “Sou Uno; Simplesmente sou; Sou livre; Sou livre; Sou livre; …”! Pronto, ok. Está bem, está bem, já se ouviu. Não se percebe se é apenas uma necessidade incontrolável de exibir a liberdade, ou se simplesmente se estão a tentar convencer a eles mesmos! O que é certo é que ninguém gosta ouvir. Ou por inveja ou por decoro…

Aliás, embora o Yôga deva servir para atingir a transcendência, parece “ficar mal” ter pretensões a isso. Só o pretendê-lo já é mais do que suficiente para ouvir a pior e mais comum das acusações: é ego!

Assim, a pratica do Yôga deve ser feita com objectivos menos égoicos, mais humildes: tratar do corpo tornando-o excepcional, emagrecimento, terapia, bem-estar “corpo e mente”, concentração para melhor produtividade, etc.

Mas… utilidades, corpo e produtividade não são coisas do ego? Não compliquemos! A prática está na moda, isso é que interessa!

Os instrutores de Yôga. Principalmente os Mestres*
(grandes, médios e pequenos e invisíveis, não vá alguém sentir-se excluído!)

Os grandes Mestres, no fundo, são grandes egos!

São pessoas em volta das quais se geram muitos fenómenos: eventos; livros; seguidores; movimentações económico-financeiras; colegas e parceiros; polémicas e inimigos; construções; conhecimentos; etc.

Basta olhar para os mais conhecidos: DeRose**, Sivananda; Aurobindo; Vivekananda; e muitos outros. (sim a lista poderia incluir muitos outros, de vários tipos, linhas e tendências, mais recentes ou antigos…é uma pequena lista pessoal.).

Eles são conhecidos e grandes por serem acontecimentos de maior! Outros instrutores são médios e pequenos pelo respectivo impacto no mundo.

O facto de serem considerados grandes Mestres (no mundo dos egos não há unanimidades) tem a ver com reconhecimento e influência social. Não garante nem impede qualquer tipo ou grau de iluminação. A iluminação dos outros é uma questão de fé para cada um. Há grandes Mestres que são considerados iluminados por muitos e considerados charlatães por outros tantos. Outros que nunca ouvimos o nome vivem grandes Moksha!
Iluminação e reconhecimento não têm causa directa.

Não importa. Em sociedade cada um vale por aquilo que tem para dar aos restantes. O bom instrutor é o que ajuda os outros na sua própria evolução em direcção aos objectivos pretendidos. Seja através de inspiração, orientação, amor ou simplesmente fé. E como vivemos num mundo de dualidade, fazer algo é também fazer algo contra! Há sempre quem não aprecie e antagonize.

Sim. E tudo isto a propósito de quê?

Nada de especial.

Ou, talvez isto…

(Esta é a parte jocosa e ácida. Não tem grande piada mas é para rir. Não leve demasiado a sério)

Quando os caros colegas e amigos, especialmente instrutores de Yôga, quiserem mandar os seus “bitaites” acerca de algum assunto de Yôga, especialmente se tiverem intenções de fazer julgamentos sumários e moralistas, antes de dizerem umas banalidades tão bonitas quanto inconsequentes sobre sermos todos unos e livres, e não haver barreiras, bláblábláblá… pensem no seguinte: se todos e tudo são unos então não se devem importar que eu namore com as vossas namoradas, afinal somos todos um, e comer-me a mim é o mesmo que beijá-la a ela! E também não se devem importar que eu passe a escrever textos e no vosso blog, afinal não há meu nem teu, é tudo ser integrado, e é anti natural-espiritual formar barreiras artificiais! E já agora, vocês pagam-me parte da renda da casa, e eu da vossa (não têm? Não faz mal, eu compenso vestindo as vossas roupas) e cada um vai aparecendo para dormir sem ter de dar qualquer tipo de satisfações e se encaixar em qualquer ordem! Isso seria divisionário, coisa do ego, inadmissível! Com certeza são tão livres e desapegados das coisas materiais que as vossas aulas e cursos são grátis! Não faria sentido cobrar por algo de valor espiritual inestimável. Assim como a vossa alimentação, que devem estar prestes a dispensar, já que isso é de seres dependentes e mundanos! Não vamos matar outros seres só para manter o nosso ego. E já agora também deixem de dizer mal do Bush, da América e dos bodes espiatórios em geral(e de qualquer coisa aliás) pois “tudo o que está aqui está em todo o lugar, e o que não está aqui não está em lado nenhum”***. Ou seja, dizer mal do Bush, por exemplo, é dizer mal de vocês mesmo, pois o Bush está dentro de vocês, e vocês estão dentro do Bush…

Pegar frases feitas e dizer balelas bonitas é fácil. Mas é oco e costuma ser incoerente e hipócrita. Os jogadores e treinadores de futebol também o fazem regularmente. Dos meus colegas do Yôga espero um pouco mais. E se nada de interessante têm para dizer então deixem que seja o silêncio a falar por vocês. O silêncio costuma ser tão eloquente!

Aliás, eu próprio também devia estar mais calado.

Já chega. E sobra!

*Mestre é um instrutor de Yôga. Uma categoria dentro da categoria de instrutor. Não entre em colapso embirrant epor causa do nome.

*** Para mim está frase é plena de sentido e verdade. Aqui usei-a para brincar com o tipo de balelas que se produzem aos montes nestes contextos, mas nela meditando bons insights aparecem.

** O Mestre DeRose é meu Mestre. Para mim é iluminado. Mas ainda mais importante: é alguém com carisma e competência excepcional para inspirar e orientar outros nesse caminho. E isso é o fundamental.

António

3 comments:

Anonymous said...

arre porra...o comandante antonio nao manda...comanda...

vou absorver e mais tarde ataco...

lol..ou melhor...observo as minhas diferencas...

um abraco

L

Simão said...

isto é muita filosofia para mim... vou-me remeter ao silêncio...

Lol

Anonymous said...

António vc fez nyása com o Mestre DeRose antes de escrever este texto?