Ser instrutor de Yôga
Quem quer ser instrutor de Yôga?
Uma reflexão sobre o valor do Yôga em termos profissionais.
O Yôga mais comum na Índia Medieval e moderna era de linhas repressoras, que faziam o elogio da renúncia realidade material. A realidade material “lato sensu”: a própria personalidade em todos os seus aspectos, a família, a sociedade, o dinheiro, etc. Ao renunciar ao material e social o Yôga mais comum tornou-se marginal. Algo pobre e sujo. Mas pelo menos mantinha alguma dignidade!
No último século o Yôga foi chegando ao ocidente. Como era algo novo e desconhecido teve de sobreviver encaixando-se nos parâmetros que a sociedade já estabelecida lhe emprestou: misticismo; espiritualidade; religião; terapia; ginástica…
Nos primórdios da globalização, no ocidente do século passado, especialmente no ocidente anglo-saxónico, onde se procurava promover uma renovação espiritual em ambientes tão intelectuais como místicos e ocultistas, o Yôga foi bem recebido como algo novo e simultaneamente muito antigo, mesmo a jeito de alimentar a recriação espiritual que tanto excitava e seduzia os ocidentais de então, tão embriagados quão desesperados pelos novos conhecimentos que chegavam, aos poucos, das colónias. Aí se abriu a brecha por onde o Yôga entrou. E também por onde o Yôga começou a ser explorado para vender religião. Para vender religiões novas, tradicionais, misturas eclécticas e originais. E até para vender o próprio Yôga como religião em si mesmo!
Por outra via, mais popular e utilitária, o Yôga perdeu também o seu carácter sagrado (e reservado), descendo ao nível de meras técnicas para restabelecer o “corpo e mente” ao seu funcionamento normal. Uma espécie exótica de ginástica terapêutica milagrosa!
O Yôga passou a ser avaliado por comparação com a realidade onde o encaixaram: ginásticas (preços vis); religião (pseudo gratuitas); terapias (extorsões charlatãs).
Foi o percurso possível… Um percurso que trouxe o Yôga até nós. O expandiu incrivelmente, e quase o matou!
Desculpe o drama, mas é real. O Yôga como filosofia é raro. Raro e desvalorizado.
Mas aos poucos o Yôga foi sendo estudado e praticado por mais gente. Por gente cada vez mais interessada e dedicada. Por pessoas que dedicaram tempo importante das suas vidas a praticá-lo, a estudá-lo (até de forma académica), a vivê-lo. Até os próprios indianos voltaram a valorizar o Yôga como algo importante, até por ser um dos seus patrimónios culturais mais apreciados (e vendáveis) pelo ocidente.
Pelo meio das nuvens negras onde o Yôga vagueava a filosofia começou de novo a ser entendida e a ganhar algum espaço. E a ser valorizada enquanto tal pelos seus praticantes, que a integram como filosofia de vida, e pelos seus profissionais, a elite que aprofunda e preserva essa cultura dedicando-lhe a vida e transmitindo-a ás gerações futuras.
Lentamente o Yôga volta a vislumbrar o esplendor que outrora tivera, quando os Yôgins se dedicavam a gerar e difundir os conhecimentos, valorizando-se a si mesmos enquanto Homens e acrescentando algo as sociedades, onde eram respeitados como sábios, ensinando e aconselhando, desde reis, grandes homens de negócios e guerreiros importantes até membros mais humildes das comunidades.
Este é o contexto em que o nosso trabalho se enquadra.
Se você percebe em si esta vocação e até esta missão então seja bem vindo.
Mas, tal como expusemos, todo este contexto é complexo e o passado recente desvalorizou muito o Yôga. Pelo que…
Não se torne instrutor de Yôga se tiver como objectivo de vida ser muito rico. Se tem como ambição tornar-se um magnata capitalista centralizando fortunas opulentas na ordem dos muitos milhões de dólares então esta não é a profissão mais indicada para si.
Ser praticante sim, pode ajudá-lo a tornar esse objectivo realidade, pois a pratica do Yôga torna as pessoas mais conscientes, enérgicas, sagazes, criativas, concentradas e lúcidas. Como tal ajuda-o a construir (e destruir) tudo o que quiser! Desde uma grande fortuna a uma genial obra de arte. Ou simplesmente um corpo forte e poderoso. O que desejar!
O trabalho com e para o Yôga, de uma forma séria, como filosofia de auto-conhecimento, ainda não faz ninguém muito rico. E consideramos desonesto usar o forte nome do Yôga para vender ginástica, terapias esdrúxulas ou religião.
A maioria das pessoas ainda não valoriza a filosofia em geral, e o Yôga em particular, como algo essencial nas suas vidas. Como algo precioso para a sua evolução pessoal e para a humanidade. Logo a sociedade ainda não canaliza para o Yôga um montante de tempo e energia (cujo símbolo máximo para contabilidade é o $) que nós, instrutores de Yôga, sabemos que ele merece.
No entanto…
Se o instrutor de Yôga não deve ter ilusões quanto à possibilidade de tornar-se multibilionário opulento, deve, no entanto, esperar ter um nível de vida digno. Digno das necessidades de uma pessoa normal da nossa sociedade. E digno do trabalho de valor inestimável que realiza!
Isso é ainda mais importante no nosso caso pois somos de linhagem tantrika e portanto valorizamos sobremaneira e conforto, bem-estar, saúde, satisfação, prazer, etc. E ainda porque para sermos Yôgins, ou seja, para podermos praticar e estudar a nós mesmos e a toda a realidade precisamos de tempo. E tempo disponível é algo caro! É necessário conquistar alguma independência em relação a corrida básica pela sobrevivência. Somos SwáSthas: cultivamos a auto-suficiência.
Assim, é de se esperar que o instrutor de Yôga, com um grau de talento e competência médio, possa ter o seu lugar para morar com segurança, conforto e higiene. E que disponha de $ para se vestir e alimentar com qualidade. Que possa suportar custos de manutenção e restabelecimento de saúde. Que possa desfrutar e contribuir para a vida cultural da sociedade em que se integra. Que possa divertir-se e viajar. Etc, etc.. Tudo junto começa a ser muita coisa e ainda é só o básico. Para aprender e ensinar é preciso espaço. E espaço equipado. É preciso fazer cursos e adquirir livros e outro material. Além disso comunicamos (Internet, telefone, automóvel, gasolina, etc.). E temos família e amigos que nos solicitam. E até precisamos de recursos para descansar!
Isto é o que o instrutor de Yôga deve esperar suportar com a retribuição do seu trabalho.
Para tudo isso é preciso tempo. Tempo e energia. Tudo isso custa dinheiro.
(Quem tiver problemas com o dinheiro por causa do Yôga, não percebe nada de Yôga!)
É preciso fazer uma boa gestão do tempo e energia para conseguir responder ás inevitáveis necessidades. É preciso organização. É preciso talento e competência, não só de Yôga a nível técnico, mas sobretudo de Yôga como filosofia de vida. Algo que está presente em tudo a qualquer momento. Não só quando se está dentro de uma sala de pratica, mas também na administração e burocracia que permitem que existam salas de praticas!
Aviso a aventureiros
Se é um idealista sonhador sem os pés assentes na terra e por isso mesmo exigente (ao bom estilo Dom Quixote), cheio de ilusões sobre a realidade e o Yôga, e com preconceitos contra o dinheiro, reavalie seriamente a sua intenção de seguir por esta via.
Há quem procure o Yôga como um escape ás pressões da vida. Desiluda-se. O Yôga não vai ser um escape. Não vai evitar problemas. Se você está com essa ilusão arrisco num vaticínio: o Yôga será a sua pressão, será o seu problema! Você acabará por culpar o Yôga (e os Yôgins) pela sua desilusão.
Quem quer ser instrutor de Yôga?
É preciso ter espírito de bravo!
Vai ser necessário enfrentar a ignorância dos preconceitos arrogantes. Até dos que estão mais próximos e são mais queridos.
Vai ser preciso encarar a desinformação e utilitarismo que a sociedade está sempre pronta a produzir em grandes massas. Nomeadamente os “mass média”!
Convém estar preparado para viver as pressões da vida no próprio Yôga. E ainda intensificadas pelo excedente de energia e lucidez que este proporciona!
Não é fácil manter a estabilidade quando há problemas. Mesmo sabendo que a sua raiz e a respectiva solução estão em nós mesmos! E o Yôga ainda nos encaminha mais para esses encontros.
E quando os amigos e companheiros desistem? E ás vezes traem!
E os alunos que tanto prezamos são os primeiros a desvalorizar o que fazemos, tanto por incapacidade de entender como por simples desinteresse.
E, sobretudo, é preciso estarmos preparados para valorizar o Yôga quando o seu valor é na realidade inestimável! É algo tão intangível e tão simples. O mais fácil é perder a noção desses valor. Quer minimizando-o, quer mistificando-o e adulterando-o. Trocando-o por algo…mágico! Trocando o intangível pelo inatingível!
Mas nem tudo é negro.
Alguns adoram a filosofia. Amam o conhecimento. Vêem nele prazer e liberdade. Realizam-se na sua conquista.
Alguns encontram-se nesta filosofia a que chamamos Yôga. Nesta tomada de consciência…Para esses a simplicidade do Yôga é cheia de sentido, importância e plenitude. E quando aplicada integralmente como filosofia de vida tem uma força e poder infinitos.
E isso não apenas chega. Sobra!
António
10 comments:
Achei o texto interessante...se bem que sei a matriz de onde vem...
Ja agora foste tu que o escreveste ?
Ate certo ponto achei que sim...mas quando deparei com :
"E quando os amigos e companheiros desistem? E ás vezes traem!"
fiquei a pensar se este texto teve origem em ti...
Seja como for...um texto interessante para pensar
L
No meu blog, por hábito, costumo publicar coisas escritas por mim (que, em geral, também são para mim!).
É um espaço de liberdade pessoal.
As opiniões apenas me vinculam a mim.
Não me proibo de transcrever coisas que acho interessantes, mas é raro... E quando o faço dou o crédito devido ao autor.
Arrisco dizer que os textos são interessantes, ou não, independentemente de haver, ou não, uma suposta matriz...
Quanto ao pequeno excerto destacado (um dos que me mereceu menos tempo e interesse)posso dizer o seguinte:
A primeira parte (a dos que desistem, ou abandonam,ou...) inclui-te a ti. A outra pensava em outras pessoas.
Cada um enfia os barretes que quiser, mas neste caso não se dirigia especificamente a ninguém, muito menos a alguém que tu conheças.
Ainda assim repito: costumo publicar coisas escritas por mim (que, em geral, também são para mim!).
Era só uma reflexão...
António
Cada um faz o que quer com o Yoga. Ninguém abandona nem desiste de nada porque somos o todo, não há nada para desistir. O Yoga não o caminho nem o principio nem o fimm o yoga é uma ferramenta. Não faço Yoga, sou Yoga. Sem mim o Yoga não existe. Sou o seu criador, e a todo o momento o crio.
Yoga é a vida, é ouvir os passarinhos, o Yoga é uma parte de mim, apenas uma parte, não sou yogin, sou mais, yogin é um aspecto de mim mesmo, que sou o Todo.
Não há verdades, só perspectivas...
Um texto tão grande...
Um texto que é quase todo sobr eprofissionalismo...
E a unica coisa a merecer algum comentário é uma pequena frase que ao ser escrita não mereceu quase nenhuma importância!
O emocional é engraçado. É o ego. A forma como cada um se sente afectado, implicado, interessado.
Isto é interessante. Publica-se algo qu eaté achamos interessante, e depois, o pouco qu eparece ter algum interesse para os demais é algo que nem suspeitariamos!
O texto fazia uma reflexão sobre profissionalismo, $$$, etc no nosso campo de actuação.
Isto numa area que está pejada de gente pouco ou nada formada, de mil e uma tendencias diversas, misturado com outra smil coisas....
Em que se confundem misturam (encontram)tradidições culturais distintas...
Uma area cheia de falsos morallismos e preconceitos.
Uma area cheia de gente a pregar uma suposta UNIDADE e a actuar em antagonismos iguais aos dos outros todos...
Já agora: somos todos unos, num todo integrado...CONCORDO!
Mas...esses que estão sempre a pregar isso, não querem pagar parte do aluguer da minha casa? Ou aí já é cad aum por si?
E se o Yôga está em tudo e todos (concordo) então porque combater e difamar os outros como se fossem demonios?
Somos todos iguais...
Penso que ninguem combateu ou difamou "os outros" como se fossem demonios. Simplesmente expressei uma opinião. Mas como já aconteceu antes parace que as minhas opiniões são sempre vistas como ataques e não como pontos de vista. Parece que a minha forma de expressar é uma ofensa mas o equilibrio destes textos. Não percebo porque, não vi (e já reli bastantes vezes) que possa eu ter dito para tais respostas.
Eu não pretendo pregar nada... simplesmente expressar pontos de vista que acho interessantes e que possam ajudar eventualmente os outros, tal como eu aprendo a cada momento com os demais.
Quanto ao texto propriamente dito, já que dizes tó que só comentei a parte daquela frase..., concordo com muitas coisas do que dizes. Não são novidade nenhuma. Mas também digo que me parecem ter o fundo um pouco arrogante do funcionamento da uni-yoga (e o nós aqui é q sabemos como ensinar o melhor yoga e formar os melhores profissionais).
Continua a colocar textos, sempre os acho muito interessantes e com base e inteligência.
Abraço
Caro Simão,
Foi com gosto que li o teu texto.
Aliás também gosto do que escreves. Escreves bem e coisas interessantes.Em muita coisa discordo, mas acima de tudo acho que és um gajo com bom coração. E isso hoje em dia já é alguma coisa relevante!
Não costumo comentar no teu blog pois é um blog de Yôga, e não tenho a menor vontade de começar e alimentar disputas entre modalidades e praticantes. Especialmente quando respeito uns e outros.
O meu é um blog absolutamente pessoal. Nao nego raizes até porque tenho orgulho nelas, mas aqui não é um blog de Yôga. Nem existe para divulgar, publicitar ou apoiar nada de institucional.
São apenas devaneios pessoais que escreveo principalmente para mim mesmo, pois ao escrever organizo bastante o pensamento.
Este é um espaço de liberdade (não absoluta) e cada um comenta se quiser e o que quer.
Sinceramente, se adivinha-se que aquela frase poderia ter algum interesse, não a teria escrito! Simplesmente porque não era esse o assunto.
Não disse que difamaste nada, tal como aquela frase não te tinha a ti em mente... Mas, tal como disse: cada um enfia os barretes que quer.
Sobre o tema! (quase apetece dizer:qual tema?)
Finalmente um coméntário ao tema do artigo. Quase nada, mas já foi alguma coisita. Yupiie! Viva!
Só um reparo: não falei em Uni-Yôga, nem em formação da Universidade de Yôga, nem me referi em ponto algum a ser ou não melhor ou pior que alguém!Acho que o texto toca por igual qualquer instrutor de Yôga. Não individualiza pessoas ou tipos.
Não me parece ter algo de arrogante, mas se o tiver não vejo o que isso possa ser imputado a Uni-Yôga. O texto é meu, por isso se for arrogante sou eu...
Acho que sei porque resolveste levar o comentário para esse lado: és bem humorado. Foi só para picar. Não o fazes com malicia nem por falta de tacto. É só pelo gozo de implicar! LOL
E fazes bem. Eu também curto brincar, e sem más intenções.
E, como tu, também gosto de conversar e interagir, e considero que nisso aprendo bastante. Até porque me chama a atenção para realidades que sozinho dificilmente acederia.
Mas que eu não te chamaria a ti arrogante, e não extenderia isso ao teu Yôga e a com quem o fazes isso não faria! Muito menos no teu blog.
Próximos capitulos(sim, porque já vi que de profissionalismo ninguém tem interesse em falar! LOL)falarei sobre um discurso que te é muito querido. Ou pelo menos usual!
Não perca, neste mesmo blog, em qualquer computador perto de si!
António
eu acho que voces sao ambos arrogantes...e mai nada!
Isso de Yoga e ilusao de fakires orientais...
Ganhem juizo e montem uma fabrica para poluir o ambiente e produzir jacuzzis po pessoal...
Isso sim e que rende...
Isso agora de aumss..e assins...ora meus amigos...
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Dito isto, acho que a tematica do profissionalismo do Yoga interessante e pertinente...
Um bem hajam
L.F.
Só tenho isto para dizer: Amo-vos a todos! Somos o mesmo ser, grandes amigos...
Abração daqueles
LOLOL ainda não tinha lido isto!
Tá demais, uma verdadeira paródia: o únicio que se safa ainda é o LF!
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