10.10.05

Cine-teatro

Teatro


História natural

Resolvemos ir ao teatro. A peça, chamada História natural, apresentava-se como premiada. Bem…foi a melhor peça que vi no último ano. E a única também! E ao reparar nisso notei o quanto tenho umas série de lacunas culturais. E os problemas que isso trás.

Sempre fico algo incomodado com a minha incompreensão daquilo que costuma ser chamado arte. Não gosto de pensar em mim como inculto, nem insensível, nem in… seja lá o que for que impede um melhor e maior entendimento das “artes”. Mas não há volta a dar-lhe.

O que raios é que me leva a gostar só umas poucas coisas? E de achar a maioria das ditas “obras de arte” desinteressante, ou até sem qualquer sentido?

Sempre gostei mais da filosofia. Das palavras. A pintura, escultura, dança, etc. sempre foram menos poderosas, para mim. Não me dizem e movem tanto. Mas será que isso não se deve a mera falta de cultura? A não conhecer tanto? A nunca ter cultivado essas formas de expressão? Talvez.

Em parte acho que tem a ver com as tendências de cada um. Nem todos gostam do mesmo. Se expressão da mesma forma. Entendem as mesmas coisas. Sentem da mesma maneira.

Sempre achei que a realidade era mais interessante e impressionante do que a ficção. Sempre a supera. Nunca cabe em qualquer forma de arte. E que a melhor arte é aquela que a expressa a realidade da forma mais directa e óbvia.

Para quê expressar as coisas de uma forma que menos percebem? Para depois ter de explicar? Muitas vezes as obras mais parecem mascaras. Mascaras da própria realidade, que a distorcem. Mascaras cuja utilidade maior é criar espaço para os autores e os seus críticos possam existir, nos seus nadas místicos…Enfim. Desculpem o cinismo.

Sempre gostei da realidade “nua e crua”. E por isso entendo a visão mais objectiva possível das coisas. Uma visão “mais de fotografia e menos de pintura”.

Prefiro a fotografia, o vídeo, a TV, o cinema. A arquitectura. Até, de certa forma, a arte presente nas empreitadas humanas mais tecnológicas, como as engenharias. Pontes por exemplo. São quase sempre impressionantes e extremamente belas. Uma prancha de surf bem feita. Dá gosto contemplá-la. E o próprio surf? Soberbo. Há arte no design automóvel. Há arte em saber cozinhar… Enfim. De certa forma, basta olhar a volta e ver o homem, o mundo e sobretudo o Homem no mundo. As infinitas possibilidades e sua extraordinária beleza. Até nas desgraças há algo de impressionante.

A Natureza, seja ela virgem ás mãos humanas ou não, é toda ela uma obra de arte.

(E toma lugares comuns…)

E a peça?

Bem, até gostei da peça.

Especialmente do diálogo de abertura que era mais ou menos assim:

“Vivemos a ilusão de que estamos conscientes e somos livres. Que sabemos o que é o mundo. Que decidimos o que sentimos, pensamos, compramos… mas não controlamos nada!

Podemos sempre dizer: Eu sou. Eu. Eu quem?

Já fui tanta coisa. Tanta coisa ao mesmo tempo. E tanta coisa sou e serei. Serei António?”

Acho que vou passar a ir ao teatro mais vezes. Talvez umas duas ou três vezes por ano. Talvez mais.

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