2.10.05

Desespero


Dispostos a tudo!

Aquando os acontecimentos de Melilla, vi uma entrevista que achei impressionante.

Um dos indivíduos que saltou as cercas e estava preso a aguardar o seu incerto destino, mostrava-se absolutamente satisfeito e confiante, simplesmente porque estava ali, em solo Europeu. Tinha viajado (de todo no sentido turístico) desde há dois anos a partir da Guiné, apenas com o propósito de alcançar a Europa, da qual falava como se fosse a terra prometida, lugar para realizar todos os sonhos!

Quais sonhos? Imagino que simplesmente viver em condições mínimas de alimentação, segurança, estabilidade, prosperidade… Ou seja, dignidade.

O que faz alguém sujeitar-se a dois anos (!!!) de tormentas apenas para chegar mais perto de um sonho? E sobretudo do que foge? Certamente de algo pior do que pobreza. Provavelmente de fome, miséria, violência, falta de perspectivas de melhoras em geral.

Acho que por mais cercas e muros que se façam não é possível parar vagas de gente desta.

Gente disposta a tudo.

Como os fanáticos das Jihads, que são quase impossíveis de parar porque estão dispostos a morrer. No 11/7, por exemplo, não utilizaram sequer uma bala! E em Londres eram Britânicos com bombas artesanais feitos a partir de consumíveis de supermercado! Exércitos enormes tornam-se ineficazes…

Quando se está disposto a tudo, disposto a morrer por alguma coisa, conseguem-se coisas incríveis. Impossíveis deixam de sê-lo.

E como se entra nesse estado de estar disposto a tudo?

Desespero? Crenças? Egoísmo extremo? Genética?

Como?

E sobretudo como impedir isso, sem esquecer que isso também é tantas vezes positivo?

Os impossíveis são tantas vezes ideais utópicos que ao tornarem-se realidade fazem avançar a vida. Os pesadelos de uns são os sonhos cor-de-rosa de outros. Os demónios de hoje são heróis amanhã!

Mas, acima de tudo, casos deste fazem-me colocar os meus problemas em perspectiva.


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