19.7.06

Será assim?

Meditações de uma tarde em León

Mais uma vez tentei colmatar uma minha debilidade cultural: o culto ritualista católico. Vulgo: missa.

Adoro catedrais: frescas e amplas. Estava na de León e tinha uns minutos. Aproveitei a missa a decorrer. Entrei.

Pela primeira vez tive pena de não ter mais tempo. Acho que tinha conseguido manter-me o tempo inteiro da cerimónia. Mas só tive tempo para o Sermão! O padre falava claro, não murmurava. E mais: deu SERMÃO! Doutrina, moral. Aleluia. Não só leu porque tinha de ler. Estava mesmo empenhado. Quase irritado. O papa estava para chegar a Valência em uma semana e isso deu-lhe força! É engraçado que, sendo eu aquilo que se chamaria facilmente um relativista, e não comungando em quase nada com o dito no sermão, não consigo ficar indiferente a palavras fortes! Mas isso é outra conversa…

O Sermão era precisamente contra aquilo que o sr. Padre resumia em uma palavra: relativismo! Que na sua boca era outro nome para o próprio diabo! O pecado moderno, que corrompe tudo. A causa de todos os males. De todo o sofrimento e da própria morte (não estou a exegerar). E o que é esse relativismo? É simplesmente o facto de não reverenciarmos a Igreja Católica e os seus dogmas, ensinamentos e valores. Sendo que o valor primordial é a própria Igreja e os seus veículos (padres, patrimónios, etc.). Como é possível que algo que demorou séculos a ser construído e que era um pilar fundamental da sociedade agora seja encarado como algo fora de moda, e apenas uma mais ao lado de muitas outras espiritualidades, concorrente de todo o tipo de paganismos? Valores que eram sagrados agora são postos em causa com toda a leviandade e até ignorados por completo. O bem e o mal já não são ditados uniformemente segundo os preceitos e interesses católicos, e até há quem ache que não existem…Escandâlo!!!Enfim, a cultura e a verdade deixaram de ser manipuladas por mãos católicas, e caíram nas mãos de todos aqueles que a quiserem agarrar! Uma espécie de vale tudo, onde alguns se encontram e onde muitos mais se perdem, no jogo do: “salve-se quem puder”! E não era assim também na epoca dominada pelo catolicismo? Para os saudosistas dessa época não. Deve ser mesmo difícil de aceitar para quem é de dentro da instituição. E ainda deve ser atractivo para muita gente, porque as ancoras dão uma certa estabilidade perante tempestades, neste caso culturais.

É sempre a mesma coisa: quem está institucionalizado não lida bem com a diferença, com o novo. Aliás, acaba de fazer do imobilismo e cristalização a sua própria força! Ou pelo menos tentam.

Mais meditações…

Acho as grandes catedrais incríveis. Grandes, imponentes, frescas. Destacam-se imenso, mesmo em cidades grandes, E ainda muito mais em pequenas.

Fico sempre pouco satisfeito com as explicações de que as grandes catedrais e mosteiros foram construídos por motivos comemorativos e espirituais! Tipo para agradecer uma vitória militar ou uma visão espiritual qualquer…

Caramba! Essas catedrais são imensas! Mesmo para os padrões de hoje. Foram (e seriam, ainda hoje) construções caríssimas. Imagine-se na época medieval! Será que alguém faria uma expo 98 só por um simbolismo comemorativo? E devemos aceitar que naqueles tempos construíam algo que equivale a 10 Expos 98 somente para agradecer uma visão de um santinho? Não. Havia com certeza motivos económicos. Diria mesmo sócio-economicos. Naqueles tempo essa linguagem não se utilizava. A cultura era mais “religiosa” e expressava-se como tal. Mas os factores económicos existiam. E de certo foram preponderantes. Assim como as manobras politicas, o favorecimento de determinadas ordens, etc.

Talvez seja demasiado cínico, relativista e pós-modermo. Mas não me convencem que construíam algo que demorava séculos e envolvia muita gente e recursos só por simbolismos.

O que é certo é que construíram. E ainda hoje esses edifícios são dos maiores, mais imponentes e agradáveis das nossas paisagens. Só de estar ao seu pé já despoletamos um sentimento perfeito do nosso tamanho real: quase nada!

2 comments:

PsiTra said...

Há teorias que dizem que os faraós construíram as pirâmides para dar um sentido de identidade aos vários grupos que compunham o seu domínio...Tem lógica! Agora o que veio antes: eles construiram uma e depois viram que dava jeito fazerem mais para controlar o povo ou já construiram com isso em mente?

António said...

Não sei também...

Não iria tanto pela onda do controlo. Pensava mais na onda do desenvolvimento. Do atrair materias primas e trabalhadores especializados e nao especializados para realizar tamanhas construções. Aquilo devia ter um impacto socio-economico brutal, mesmo em cidade como Lisboa por exemplo. Já para não dizer na Batalha ou Alcobaça!