Opus Dei e coisas que tais...
Tudo bons rapazes
Conheci por cá um arquitecto surfista (ou surfista arquitecto) que é um gajo porreiríssimo. Ou pelo menos parece. Ele está a viver em Ribadesella mas é de Madrid.
Tem 26 anos, está mesmo a acabar o curso, fez um ano de erasmus no Porto, tem o sonho de ir fazendo alguns projectos de arquitectura, provavelmente com o pai no seu escritório (entretanto estagia num outro escritório para mostrar ao pai que pode ser independente e para conhecer mais gente da região), para financiar a sua vida de surfista. Espera poder fazer um estágio na Austrália, de pelo menos uns 6 meses, ali na zona de surfer´s paradaise, e o nome deixa explicito que o lugar e os motivos não arquitectónicos dele coincidem.
Isto a propósito de quê?
Pois o gajo é de uma família totalmente involucrada com a Opus Dei. Grande parte da sua família faz parte activa da Opus Dei e tem inclusivamente um tio que é Bispo no Brasil. E da Opus Dei. O pai dele também era da Opus Dei a qual deixou por passar a não concordar com umas quantas coisas, mas está bom de ver que a proximidade continua mais que muita, nem que seja pelos outros laços familiares. O colégio que freqüentou é um dos muitos colégios que são controlados pela igreja espanhola, através de uma das suas muitas ordens. E neste caso a ordem é obviamente a Opus Dei, que se está a substituir a passos largos à anterior influência dos jesuítas, que são agora uma ordem em declínio e rival dentro do catolicismo. Por este motivo quase todos os seus amigos são também de uma forma ou outra membros ou fortemente influenciados pelos mandamentos dessa prelatura cristã.
E quais são os mandamentos desta Opus dei? Pelo que percebi de conversas com este meu novo amigo é basicamente aquele que está expresso no nome da ordem: o trabalho pode tornar-te santo. Mais: o trabalho deve tornar-te santo. O trabalho deve ser o centro de tudo, e através dele cada um honra e se entrega a Deus. E nesse contexto claro que o trabalho dito fundamental é aquele que se faz directamente em prol do cristianismo, neste caso o catolicismo tal como entendido pela Opus dei. Ou seja, "santo" é o trabalho realizado em prol da própria Opus Dei. E basicamente é isto. Simples. Absolutamente simples e respeitável.
Já antes tinha conhecido outro gajo porreiro por cá (também de Madrid) que tinha tido uma ex-namorada que também havia pertencido a Opus Dei e cujo o ex-namorado era um ex-membro da Opus Dei... Enfim, a Opus Dei por cá está tão implantada na educação (colégios e universidades) e em empresas (por exemplo a Maphre) que é normal conhecer alguém que é ou foi parte dessa organização.
E o que eu vejo é isto: independente dos aspectos radicalistas, elitistas, moralistas, doutrinários, de supostas mortificações e sacrifícios, da preponderância que os grupos assumem sobre os indivíduos, do trabalho em prol de poder econômico-financeiro, dos jogos de influências político-económicos, etc., e tudo isso é real (este meu amigo disse-me, com toda a naturalidade, que “ a Opus controla Espanha”, assim como “no colégio pressionavam-nos e doutrinavam-nos”), independentemente de tudo isso ser real dizia, parece-me que a maioria das pessoas que fazem parte disso são gente normal, com boas intenções, pessoas com convição no que fazem, boas pessoas. E em geral pessoas muito mais comuns do que as novelas, filmes e trabalhos jornalísticos recentes gostam fazer transparecer acerca dessa prelatura, que muitas denominam de seita perigosa, para meter medo e ganhar uns cobres com o sensacionalismo. Sensacionalismo que depois o povo transforma numa atitude persecutória histérica, cheia de “ouvi dizer”, e com todo tipo de exageros: “na Opus Dei eles flagelam-se todos e tentam controlar o mundo num plano diabólico para nos fazer regressar todos a tempos medievais e inquisitórios”, ou “os comunistas comem criancinhas ao pequeno almoço”, ou “os grandes empresários capitalistas são todos comparsas de um sistema de dominação e exploração do povo indefeso”, ou “os cientologos do Tom Cruise são todos doentes mentais” e coisas do gênero.
Fazendo um paralelo para outros tipos de agrupamentos, tais como os políticos, ou os ecologistas, ou os maçons e outros esótéricos, assim como aos grupos de yôga que conheço bastante bem, vejo que o mesmo se aplica. A maioria das pessoas que pertencem e colaboram com esses grupos e causas são em geral pessoas com boas intenções, pessoas com convição no que fazem, boas pessoas. Pessoas comuns.
Sim, haverá doutrinações, manipulações, usurpações, ambição, ganância e até ilegalidades. Mas isso afinal só os torna mais comuns ainda. Isso existe nas famílias, nas escolas, nas empresas, até a policia e os tribunais têm disso tudo, porque raios uma instituição “espiritual” qualquer não haveria de ter, ou ser demoníaca e perigosa por também ter alguma mancha negra?
Ironicamente, a única grande acusação que eu faria a todas essas organizações idealistas-religiosas (desde partidos políticos, a grupos maçons, ONG, prelaturas católicas e outras seitas independentes, ou organizações ecologistas e esotéricas) é a de hiprocisia. E a sua hipocrisia consiste em serem exactamente iguais aos outros apesar de fazerem tudo precisamente para não o serem, e obviamente crerem que não o são. São tão humanos pecadores como qualquer Maria Madalena desta vida, são tão humanos como qualquer buscador de poder e glória de todos os tempo, mas fazem tudo com uma justificação superior, em prol de um Deus, do Bem, de uma forma qualquer de Cultura ou Vida supostamente melhor que virá, da salvação, de uma qualquer ética ou hiperconsciencia que no fundo demonstram sempre escapar-lhes, pois acabam por demonstrar sempre a sua absoluta normalidade.
No fundo essas organizações todas apenas e só se atrevem a tentar por em practica aquilo por que todos sonham e clamam: lutar por um mundo melhor, uma salvação qualquer, a sua salvação. E os que fazem são criticados por fazerem, e os que não fazem são criticados por não fazerem.
A mim dá-me no mesmo. Somos todos iguais. Somos todos o mesmo! E em geral somos todos boas pessoas, bons rapazes. Como os do filme do Scorcese...
Conheci por cá um arquitecto surfista (ou surfista arquitecto) que é um gajo porreiríssimo. Ou pelo menos parece. Ele está a viver em Ribadesella mas é de Madrid.
Tem 26 anos, está mesmo a acabar o curso, fez um ano de erasmus no Porto, tem o sonho de ir fazendo alguns projectos de arquitectura, provavelmente com o pai no seu escritório (entretanto estagia num outro escritório para mostrar ao pai que pode ser independente e para conhecer mais gente da região), para financiar a sua vida de surfista. Espera poder fazer um estágio na Austrália, de pelo menos uns 6 meses, ali na zona de surfer´s paradaise, e o nome deixa explicito que o lugar e os motivos não arquitectónicos dele coincidem.
Isto a propósito de quê?
Pois o gajo é de uma família totalmente involucrada com a Opus Dei. Grande parte da sua família faz parte activa da Opus Dei e tem inclusivamente um tio que é Bispo no Brasil. E da Opus Dei. O pai dele também era da Opus Dei a qual deixou por passar a não concordar com umas quantas coisas, mas está bom de ver que a proximidade continua mais que muita, nem que seja pelos outros laços familiares. O colégio que freqüentou é um dos muitos colégios que são controlados pela igreja espanhola, através de uma das suas muitas ordens. E neste caso a ordem é obviamente a Opus Dei, que se está a substituir a passos largos à anterior influência dos jesuítas, que são agora uma ordem em declínio e rival dentro do catolicismo. Por este motivo quase todos os seus amigos são também de uma forma ou outra membros ou fortemente influenciados pelos mandamentos dessa prelatura cristã.
E quais são os mandamentos desta Opus dei? Pelo que percebi de conversas com este meu novo amigo é basicamente aquele que está expresso no nome da ordem: o trabalho pode tornar-te santo. Mais: o trabalho deve tornar-te santo. O trabalho deve ser o centro de tudo, e através dele cada um honra e se entrega a Deus. E nesse contexto claro que o trabalho dito fundamental é aquele que se faz directamente em prol do cristianismo, neste caso o catolicismo tal como entendido pela Opus dei. Ou seja, "santo" é o trabalho realizado em prol da própria Opus Dei. E basicamente é isto. Simples. Absolutamente simples e respeitável.
Já antes tinha conhecido outro gajo porreiro por cá (também de Madrid) que tinha tido uma ex-namorada que também havia pertencido a Opus Dei e cujo o ex-namorado era um ex-membro da Opus Dei... Enfim, a Opus Dei por cá está tão implantada na educação (colégios e universidades) e em empresas (por exemplo a Maphre) que é normal conhecer alguém que é ou foi parte dessa organização.
E o que eu vejo é isto: independente dos aspectos radicalistas, elitistas, moralistas, doutrinários, de supostas mortificações e sacrifícios, da preponderância que os grupos assumem sobre os indivíduos, do trabalho em prol de poder econômico-financeiro, dos jogos de influências político-económicos, etc., e tudo isso é real (este meu amigo disse-me, com toda a naturalidade, que “ a Opus controla Espanha”, assim como “no colégio pressionavam-nos e doutrinavam-nos”), independentemente de tudo isso ser real dizia, parece-me que a maioria das pessoas que fazem parte disso são gente normal, com boas intenções, pessoas com convição no que fazem, boas pessoas. E em geral pessoas muito mais comuns do que as novelas, filmes e trabalhos jornalísticos recentes gostam fazer transparecer acerca dessa prelatura, que muitas denominam de seita perigosa, para meter medo e ganhar uns cobres com o sensacionalismo. Sensacionalismo que depois o povo transforma numa atitude persecutória histérica, cheia de “ouvi dizer”, e com todo tipo de exageros: “na Opus Dei eles flagelam-se todos e tentam controlar o mundo num plano diabólico para nos fazer regressar todos a tempos medievais e inquisitórios”, ou “os comunistas comem criancinhas ao pequeno almoço”, ou “os grandes empresários capitalistas são todos comparsas de um sistema de dominação e exploração do povo indefeso”, ou “os cientologos do Tom Cruise são todos doentes mentais” e coisas do gênero.
Fazendo um paralelo para outros tipos de agrupamentos, tais como os políticos, ou os ecologistas, ou os maçons e outros esótéricos, assim como aos grupos de yôga que conheço bastante bem, vejo que o mesmo se aplica. A maioria das pessoas que pertencem e colaboram com esses grupos e causas são em geral pessoas com boas intenções, pessoas com convição no que fazem, boas pessoas. Pessoas comuns.
Sim, haverá doutrinações, manipulações, usurpações, ambição, ganância e até ilegalidades. Mas isso afinal só os torna mais comuns ainda. Isso existe nas famílias, nas escolas, nas empresas, até a policia e os tribunais têm disso tudo, porque raios uma instituição “espiritual” qualquer não haveria de ter, ou ser demoníaca e perigosa por também ter alguma mancha negra?
Ironicamente, a única grande acusação que eu faria a todas essas organizações idealistas-religiosas (desde partidos políticos, a grupos maçons, ONG, prelaturas católicas e outras seitas independentes, ou organizações ecologistas e esotéricas) é a de hiprocisia. E a sua hipocrisia consiste em serem exactamente iguais aos outros apesar de fazerem tudo precisamente para não o serem, e obviamente crerem que não o são. São tão humanos pecadores como qualquer Maria Madalena desta vida, são tão humanos como qualquer buscador de poder e glória de todos os tempo, mas fazem tudo com uma justificação superior, em prol de um Deus, do Bem, de uma forma qualquer de Cultura ou Vida supostamente melhor que virá, da salvação, de uma qualquer ética ou hiperconsciencia que no fundo demonstram sempre escapar-lhes, pois acabam por demonstrar sempre a sua absoluta normalidade.
No fundo essas organizações todas apenas e só se atrevem a tentar por em practica aquilo por que todos sonham e clamam: lutar por um mundo melhor, uma salvação qualquer, a sua salvação. E os que fazem são criticados por fazerem, e os que não fazem são criticados por não fazerem.
A mim dá-me no mesmo. Somos todos iguais. Somos todos o mesmo! E em geral somos todos boas pessoas, bons rapazes. Como os do filme do Scorcese...
5 comments:
O acrescento mais recente à minha família é completamente opus dei.Eu sendo um gajo que sobretudo preza a liberdade , não tenho nada de fundamental contra seitas e cultos , desde que não vão ao ponto de interferir com vidas alheias , e é isso um bocado que a Opus faz , com a sua vasta rede de influências que , ainda sem muito sucesso, procura ditar regras e passa julgamentos a toda a hora.Essa história do trabalhoe da santidade pelo trabalho parece tud muito bonito mas se começarmos logo por questionar o conceito deles de santidade aquilo já não cheira assim tão bem.Já para não falar do facto de que é das seitas mais elitistas que há, não é uma obra de caridade aberta a todos. Não tenho que ser contra nem a favor, mas não gosto de fundamentalistas nem de ortodoxos , e é o que eles são.E grande quantidade deles uns hipócritas de primeira, como bem dizes.
"The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing." E. Burke
Ou noutras palavras: o prob n é haver ppl a tentar foder tudo, o prob é a malta deixar!
Ou como falámos: não há manipulador onde não há vontade de ser manipulado.
Até digo mais! A Opus Dei é a herdeira cultural do Tribunal do Santo Ofício!
Nao percebi essa conexmkhao...
conexao...
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