18.9.09

Surfwise! Sonho ou pesadelo? Os dois...

Há um mês vi um filme-documentário chamado “Surfwise”. É sobre uma família de surfistas relativamente conhecidos, os Paskowitz. Conhecidos no meio, principalmente para quem já acompanhava o meio surfistico nos anos 70!

Resumindo: um médico judeu formado em Standforf, Dorian "Doc" Paskowitz, que era surfista já nos anos 50, sendo um dos pioneiros do surf moderno no Hawai e em Israel, viu-se...infeliz!
2 casamentos falharam e a vida profissional como médico e dirigente profissional (com perspectivas de carreira politica) estavam a deixa-lo...infeliz! Solução? Surf. Surf e família. Lá achou uma terceira mulher que adorou a ideia de ser a mães dos seus filhos e a partir daí tiveram 9 filhos! E toda a vida deles foi passada numa auto-caravana! Os 2 pais e os 9 filhos numa auto-caravana. De um lado para o outro, pela a América do Norte, e em geral com muito pouco dinheiro, no limite da sobrevivência, o que alias fazia parte da filosofia de vida adoptada pelo mentor, que procurava não só liberdade mas também uma certa volta ás origens da animalidade humana, la luta pela sobrevivência diária e um certo ideal de saúde plena a isso associado. Sempre sem escola formal e muito surf. Nos anos 70 durante a contra cultura e da explosão do surf como cultura popular, e estilos de vida ditos alternativos os Paskowitz eram um exemplo de que o sonho era possível, uma inspiração, fonte de invejas, admiração, imitação...

O interessante: a partir dos 20 anos os filhos, a maioria deles surfistas e sem qualquer educação formal, fartos de viver sem dinheiro e confortos, fartos dos apertos, fartos da disciplina espartana instaurada pelos pais (disciplina férrea diga-se), começaram a rebelar-se a abandonar o barco. O melhor, a auto-caravana. Entretanto começaram a chatear-se todos. Os irmãos uns com os outros, com os pais, etc. Discussões sobre (o pouco) dinheiro envolvido claro que afloraram logo. Enfim, o que parecia um éden invejável visto de fora desmoronou-se por dentro. Implodiu. Hoje o velho Paskcowitz ainda faz surf ocasionalmente e continua firme e convictos das escolhas que fez para si e para os seus filhos. Mas aos 80 e muitos anos tem mais ou menos a mesma saúde de muitos outros octogenário (ou seja, pouca). Pelo menos fez muito surf e viveu como quis, com a sua família sempre perto. Até certa altura.... Já os irmãos cada um derivou para seu lado, poucos ainda surfam e só um pretende seguir o mesmo estilo de vida preconizado pelo pai. Um em 9. Os outros todos têm as suas mágoas, as suas frustrações, as suas culpas, muitas das quais dirigem directamente ao que os pais lhe deram. Ou melhor, não deram! Nomeadamente uma educação académica formal.

Esta história faz-me lembrar outra, a de uma amiga de uma amiga minha. Os pais dessa amiga de amiga soa hippies de toda a vida. Ela cresceu em comunas, blablabla... E pelo que sei está desesperadamente a procura de um gajo com o qual casar e ter filhos e assentar! De hippies a redneck amaricano em apenas uma geração!

Moral da história: seja lá o que for somos sempre contraditórios, desequilibrados e descompensados. Sempre a procura de outra coisa, a outra, o que não temos. Insatisfeitos, incompletos. A galinha do vizinho é melhor do quea minha. O melhor que podemos fazer é fazer escolhas responsáveis e tentar viver segundas as nossas convicções. Por mais que sejam apenas mais uma, nem melhores nem piores que as dos demais, são as nossas. Sejam elas quais foram. Não garante a felicidade, mas...o que a garante? Mais vale errar com os próprios erros...

1 comment:

Jorge Ventura said...

Passam-se coisas semelhantes com familias que vivem em barcos , sempre a navegar.
'E um dos meus sonhos, mas nunca o levaria ao ponto de nao deixar filhos terem uma educacao formal.Educa-los para ai ate' a altura de irem para o secundario, mas depois disso 'e privar os filhos de muitas coisas que todas as criancas precisam...
Esta historia do surfista que contas 'e um bom exemplo de como pode tudo correr mal quando queremos que os outros partilhes dos nossos sonhos....'a forca...
Aquele abraco