30.8.12

RTP: Portugal a ser ele mesmo!

Logo eu, que nem tenho TV, há anos, vou opinar, só para me entreter e desabafar(Afinal de contas, mesmo que não tenhamos TV, pagamo-la na mesma, na conta de EDP!). E é curioso que não tendo TV lê-se  mais, pesquisa-se mais na net, e mais se escreve. Dá que pensar: talvez acabar com a TV fosse o melhor serviço público de todos!

Quanto mais oiço os argumentos que se levantam acerca deste assunto mais sou a favor de privatizar a RTP. Ou até, pura e simplesmente, aniquilá-la! Hoje ouvi um argumento que se abeira ao surreal: a RTP tem a obrigação de gastar imensos milhões de euros para transmitir jogos de futebol porque o "povo gosta", e, portanto, tem direito a ver 1ª Liga na TV gratuitamente!

Hã?!?

Ouvi isto 2 X em menos de 1 hora! Ambas as vezes da boca de pessoas de "esquerda", cultas e inteligentes. A que me o disse primeiro até é dos que diz (e gosta de dizer) que pouco futebol vê, e que acha o futebol um jogo muito chato, e escandaliza-se com os ordenados dos jogadores, etc. O segundo a quem ouvi a mesma deixa foi de um politico, na TV. Não o conheço pessoalmente, mas também suponho que seja um indivíduo culto e inteligente. Então mas porque é que um individuo de esquerda, um intelectual que até gosta de dizer que não gosta de futebol, viria agora dizer que a RTP deve existir para garantir o serviço público, no qual até está incluído futebol, "porque o povo gosta e tem direito"?(sim, isto é mesmo absurdo, não nos deixemos levar pela loucura) É fácil perceber: no governos está um partido nominalmente de direita, que tem ideias contrárias, logo a esquerda está a favor do contrario do que o governo disser. É simples. Julgo que é o que se chama "ser reaccionário".

Ora, digamos, calma e claramente: ver o "espectáculo futebol" gratuitamente não é um direito publico e universal que deva ser assegurado pelo Estado (o dever do Estado era retirar-se total e absolutamente de tudo o que envolva espectáculos desportivos, sobretudo se se pagam milhões a jogadores. Uma coisa é um espectáculo, outra é desporto, nomeadamente desporto infantil, escolar, que tem a ver com saúde, etc). Até porque se a RTP gastar milhões para a transmissão, não é gratuito. É pago, por todos. É pago inclusivamente por aqueles que não vêem e não gostam de futebol, como eu. E o futebol não é algo essencial para viver. Aliás, a música pimba, os programas de cusquices, os concursos de variedades, as novelas e os reality shows não são essenciais para viver. Eu e muita gente não consumimos disso e estamos vivinhos. Sejamos francos: N A D A do que a RTP1 faz é essencial para que os Portugueses vivam bem. N A D A! Aliás, tudo o que a RTP 1 faz já é feito, tão bem ou melhor, pelos privados! A RTP 1 é absolutamente desnecessária.

O que é essencial para viver é ter lugar para viver e trabalhar, e ter comida e bebida, e roupa no corpo. Ora, para isso, o absolutamente essencial, confiamos no mercado privado. Ou será que o Estado também devia tornar-se padeiro, e alfaiate, e construtor civil? Não. Está mais que visto que não só não é necessário como até é melhor que o Estado não se meta nisso.

A única discussão que pode haver quanto há utilidade de produção Estatal de TV é sobre a temática da informação. E sobre pequenos programas culturais, de nicho, muitas vezes de artes e outras altas culturas não comerciais, de carácter nacional, e que têm audiências reduzidíssimas, supostamente não sendo tão atraentes para a cobertura por mass media privados.

Sobre a questão da imparcialidade e diversidade da informação diz-se, ás vezes, e com razão, que os grupos privados têm uma influência interessada e parcial na informação produzida. É verdade. Mas isso é mitigado pelo facto de haverem vários operadores, ligados a vários grupos de interesses concorrentes. E quantos mais operadores concorrentes houver e mais amplas e diversificadas fontes noticiosas existirem mais a salvo estamos de limitações e manipulações informativas. De qualquer forma, os que costumam vir com esses argumentos são os mesmo que também vêm criticar a "instrumentalização política" da rádio e televisão publica pelos vários governos. E, muito mais significativo, esses mesmos que alegam horríveis perigos acerca da informação produzida pelos grupos privados são os mesmo que vêem preferencialmente noticiários nos jornais e televisões privadas! São eles mesmos que preferem os produtos noticiosos dos grupos privados de que tanto mal dizem! E poderíamos dizer: não há alternativas. Mas há. Só que preferem a SIC Noticias à RTP e RTP2. E até podiam ir à internet procurar as informações mais "alternativas", que não são nem Estatais nem de grandes grupos, e essa informação até anda aí, quase gratuita, para quem tenha interesse e paciência... Portanto, quanto a informação estamos conversados: a RTP é desnecessária. O que é necessário e é um grande e variado numero de operadores. E por aí me inclino a favor de privatizar a RTP1. 

Quanto aos programas culturais nacionais de nicho, aqueles que interessam a poucos mas diz-se serem importantes existir, e que, supostamente, os privados não procuram, não mostram, não alimentam...enfim, a RTP 2. Sobre isso, acho que o caso também é solúvel. Acho os privados até fazem programação, e boa, nesta área, e bastam. Se acreditarmos que seria preciso mais, então o Estado poderia encomendar programação especifica a esses privados, para cobrir essas áreas. E pronto. Sou contra a Cultura, seja ela cultura popular ou "alta cultura de e para eruditos", depender do Estado. Mas admito que o sistema está muito viciado, e que é do interesse de geral não matar de repente todos "os artistas do regime". Já que a RTP 2 gasta quase tanto como toda a Secretaria de Estado da Cultura (!?!) , e parece algo vocacionada para esse lado, pois mantenhamos esse canal a dar as esmolinhas, de dinheiro e atenção, aos intelectuais e artistas pedintes. Damos até mais. A RTP ficaria, com uma gestão mais controlada e um orçamento menor, exclusivamente dedicada a intelectualóides de várias áreas , sem publicidade, nem informação generalista. Só programas feitos por e para portugueses claro. Coisas tipo: mostra de arte contemporânea nacional, conversas com curadores de museus, livreiros e escritores, o artesanato de uma região do interior, reportagens sobre arquitectura paisagística e de interiores do ponto de vista sociológico na década de 80, poetas a declamar sobre paisagens do mundo natural português, ao som de fado moderno que se edita em vinyl...Enfim, reservemos parte do orçamento nacional e um canal generalista inteiro só para coisinhas que nem os próprios teriam paciência para se verem na "sua" TV!

E a RDP? A RDP que custa dezenas de milhões? Acabem de vez com essa m.... que tem um orçamento gigantesco e está cheio de ratos do porão! As rádios privadas cobrem bem o panorama nacional e podem dar ( e dão) todos os avisos de emergência que pode ser necessário dar. Abram mais licenças privadas se for preciso.

E os arquivos históricos? Não precisam de um canal. Basta pagar servidores, e pô-los on line, para qualquer um consultar e utilizar livremente.

Resumindo: Acabem com a RDP, vendam a RTP 1, reduzam e controlem bem a RTP2, aumentem o mercado e a concorrência dos privados. Há mercado para isso sim senhor, senão não estavam a aparecer novos interessados. Livrem-nos de mais este cancro de tachos e interesses que é este "serviço publico" onde se desbaratam centenas de milhões. Livrem-nos destas taxas e compensações e transferências de dinheiro público que pagam um serviço do qual não necessitamos para absolutamente nada.

Vaticínio: como alguém disse, em Portugal todos acham que é preciso mexer em tudo até alguém querer mexer nalguma coisa. E todos acham muito bem que se mexa, desde que seja no vizinho. E se o governo tenta mexer então devemos desconfiar, e partir do principio que é mau. Algo que me diz que, entre medos de mexer nos interesses instalados, quer os interesses dos funcionários – directos e indirectos - da RTP/RDP, quer dos privados (grupo Impresa, do Balsemão – SIC-Expresso-TSF- PSD, e TVI), não se vai fazer nada. Ainda são uns milhares de pessoas em Lisboa e Porto, com poder de influência e bem relacionados. Nenhum governo tem coragem de contrariar tanta gente tão bem relacionada. Portanto faz-se um novo modelo de gestão, onde a RTP vai passar a ser economicamente viável e até a dar "lucro" através das taxas que lhe pagamos quer a vejamos quer não, e muda-se, mais uma vez a direcção, continua-se a discutir o que é o serviço público, caí um ministro ou dois, e mesmo com bancarrotas, austeridade e troikas vai ficar tudo quase igual.

Portugal a ser ele mesmo, uma tradição (quase) milenar...

1 comment:

Jorge Ventura said...

Só não concordo com o fecho da RDP , apesar de ser um vergonha por exemplo mandar 3 gajos por 2 dias para qualquer país onde jogue uma equipa de futebol portuguesa para de lá debitarem as suas banalidades .
Acho que se deve manter a RDP para , como disse lá no meu post, para cobrir o território todo , como aqui a minha ilha onde só se ouve a RDP 1 e 2 na maior parte dos sítios. Isso é assegurar serviço público, assegurar que em qualquer caso as pessoas têm acesso a informação e indicações tipo avisos de furacão. Claro que a RDP podia fazer isso com 1/4 do que gastam , vai tudo nos ratos de porão, como bem lhes chamas.
Vamos ver o que nos sai na rifa nesta história. Abraço!