24.5.13

Os esquerdistas comuno-anarcas, e os liberais conservadores de direita: espelhos de perfeita simetria

Ambos os bandos acham que o sistema está nas mãos do outro bando, e que o outro é o culpado de tudo (auto critica: quase zero).Para a extrema-esquerda todos os demais são neo liberais (ou seja: fachos). Para os liberais tudo o resto são apenas diferentes graus de socialismo-comunismo (ou seja: Estalines em potencia).

Ambos os bandos estão sempre a ver provadas as suas teorias na (mesma) prática. Mas quando pedimos para citarem exemplos reais de aplicação cabal, com bons resultados, das teorias que defendem, não têm nenhum para apresentar. São utopias. 

Ambos os bandos acham que o sistema actual é péssimo e causa de todos os males. E ambos tendem a esquecer o lado bom. Culpam o outro bando por tudo que funciona mal, mas nunca dão mérito ao mesmo bando pelo que funciona bem. Mas nenhum dos bandos gostaria de viver noutro sítio, porque a maioria dos outros sítios são muito piores! Aliás, ambos os bandos, vivem e comem neste, e deste, sistema, de que tanto mal dizem. E gostam. E nunca falam dos custos, a curto e médio prazo, que teria implementar as suas teorias (a longo prazo é tudo tão paradisíaco quanto onírico). Ambos esperam pelo “quanto pior melhor” para verem provadas as suas catastróficas previsões, e seres-lhes dada razão! E, se possível, poder!

Ambos os bandos têm pouco poder, porque o poder está no centrão, que não é nem comunista nem liberal, nem conservador, nem corporativo, nem socialista...O centrão é uma mistura complexa e em permanente mutação de quase tudo, para bem e para mal. Por isso todas as críticas acertam no alvo. Mas nenhuma tem completa razão.

Ambos os bandos acham que há soluções fáceis e rápidas, e óbvias, que poderiam e deveriam ser implementadas, para bem geral. O problema é o outro bando, que não deixa. O outro bando domina o poder, através de influências mais ou menos claras e conspirativas. É o sistema, com a sua cultura… No fundo, o problema, para ambos os bandos, são “só”… as pessoas, é “só” a realidade!

Ambos os bandos estão ancorados em divisões esquerda e direita, que são primeiro e sobretudo emocionais. E depois, como são pessoas cultas e inteligentes, justificam os seus sectarismos com uma verborreia socioeconómica de finais do século XIX, que pouco evoluiu desde então. Os esquerdalhos só vêm problemas no mercado e no individuo. Os liberais nunca vêm problemas no mercado e no indivíduo, culpam o Estado de tudo. Mas o bode expiatório é o mesmo para ambos: ambos passam a vida a culpar os políticos e o Estado de tudo, seja por fazer demais , ou de menos, ou mal...Ambos odeiam os políticos do sistema. Mesmo que até apoiem e sejam próximos de muitos que andam pelas assembleias há décadas…Aliás, tanto os liberais como os radicais da esquerda andam sempre desertos para irem para lá!

Ambos os bandos vêm problema sério nas grandes e inúmeras negociatas entre Público e privado.  Serão a culpa de tudo. Da corrupção, falta de força, ineficácia e ineficiência de ambas as áreas. A solução do bando da esquerda é acabar com o privado. A solução do bando dos liberais é acabar com o público...A complexidade, o meio, a realidade, "promiscuidade"  por natureza é para acabar! Pureza deseja-se! (Assustador).

Ambos os bandos têm uma visão sectária do Homem e da existência: a esquerda não consegue ver a importância da existência individual, e os liberais não conseguem ver a dimensão grupal da existência. Não é a existência humana individual e social, simultaneamente?

Ambos os bandos, ainda filhos da revolução francesa, estão sempre munidos da palavra liberdade. Liberdade é como Deus, ou paz, ou felicidade, ou paraíso. Algo fundamental para muita gente. Um grande vazio onde cabe tudo, se me perguntarem a mim. Munição para insatisfação e sonho. Esta gente, materialista, moderna e positiva, é tão pretensiosa que não agitam apenas uma distante, abstracta e onírica liberdade. Dizem-se “libertários”! É para aqui e agora…pró menino e prá menina.

A esquerdalha é pseudo humanista, e progressista, mas detesta a globalização e o individuo. Especialmente o individuo ocidental. E todo o ocidente. Detestam-se a si mesmos. Os direitistas, pseudo liberais, têm sempre, na língua, o individuo privado pronto para ser elogiado e defendido, mas estão-se a marimbar se mega corporações esmagam esses indivíduos! Desde que sejam privadas…E, mais ridículo, estão sempre a criticar o Estado por tudo, mas estão desertos para que o Estado impeça os indivíduos de fazerem escolhas sobre aspectos das suas vidas íntimas! Porque querem forçar a sociedade a manter-se dentro de padrões coloniais. No fundo os liberais de direita, são mãos neo-conservadores católicos, machistas, racistas e saudosistas. Ressabiados, que de liberais têm pouco!

Ambos os bandos se queixam que a (mesma) comunicação social é completamente dominada pelo outro bando! 

Ambos os bandos tratam os elementos do outro bando como ignorantes, alucinados, perversos, perigosos, etc. Ambos os bandos adoram celebrar êxitos das suas filas a humilhar o adversário nas lutas ideológicas. Mas não nos enganemos: estes bandos não eram felizes uns sem os outros! Eles precisam de inimigos.Precisam do "outro" para saberem que existem, quem são.

Ambos os bandos estão repletos de gente arrogante, com manias de superioridade moral, e que nutrem sentimentos de ódio pelos seus contrapartes. Ressabiados, portanto.

Ambos os bandos têm gente inteligente e culta. E tão infantil e egocêntrica! Vaidade e necessidade de atenção destila. Tão parecidos que são, estes radicais iluminados!

Gostava de dizer que os acho iguaizinhos, e me sinto perfeitamente equidistante de ambos os bandos. E é quase verdade. Não em revejo em nenhum. Ambos me dão medo. Ambos me dariam medo, se eu achasse que alguma coisa ainda tem sentido e importância, e que vale a pena ter esperança. Bem, ainda tenho algum interesse pela vida, pelo ego, e, queira ou não, estou vivo, sinto e penso. Sou sectário portanto. Confesso a mim mesmo o óbvio: que não sou tão desinteressado, e, por tanto, tão isento! Estou a tender, cada vez mais, a achar que a esquerdalha, neste momento, é mais alucinada e distante da realidade que os liberais de direita. Penso que isso faz parte do seu código genético. A esquerda é revolucionária. A esquerda é...
sinistra! Até (sobretudo?) quando o é genuinamente, de coração, com boas intenções! Já os liberais de direita, porque são mais direita que liberais (e logo, mais conservadores que liberais) não são tão assumidos, e acabam por ser mais humildes. Só querem menos estado, basicamente. E isso, neste momento, parece-me bem.

Gosto do que o Sócrates disse já lá vão mais de 2 milénio: não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo. Mas sei que isto é o meu próprio desajuste. A globalização ainda não está completa, e até parece andar para trás. E tudo parece indicar que mesmo indo nessa direcção não teremos um mundo mais livre ou mais justo, seja ele dito de esquerda, direita, liberal ou comunista. Seja ele Cristão, muçulmano, confucionista, comunista, ateu ou agnóstico. A condição humana é o que é, por mais avanços que se dêem.

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