14.1.05

Yôga e liberdade II

Liberdade na relação Mestre - discípulo

A relação entre Mestre e discípulo é pautada por um valor supremo: a liberdade.

Primeiro: Mestre é um profissional. Um especialista que conhece profundamente uma arte ou técnica, o bastante para instruir e/ou supervisionar outros especialistas. Alguém a quem reconhecemos competência para nos orientar. E essa orientação é essencialmente inspiração. É a identificação que nos faz escolher esse Mestre. Queremos ser como ele, ou já somos. Dessa identificação de fins e meios nasce a União de um discípulo com o seu Mestre e vice-versa. Identificação quanto aos fins (Liberdade, Sámadhi, divulgação e dignificação do Yôga, defesa dos seus praticantes e profissionais, etc) e quanto aos meios (métodos: de Yôga, didácticos, profissionais, políticos, etc).


Dito isto…

Ninguém pode obrigar alguém a ser seu discípulo ou seu Mestre. Ninguém pode impedir ninguém de deixar de ser discípulo ou deixar de ser Mestre. O discípulo não pode obrigar o Mestre a ser como lhe vai dando mais jeito, nem o Mestre pode obrigar o discípulo a seguir seja o que for. Esta regra é básica e fundamental. Não há poder coercivo. Não há coação, logo cada um decide por si e para si, em cada momento. O poder é total de ambas as partes. É impossível uma parte obrigar a outra seja ao que for.



Se a certa altura um discípulo decide que não quer continuar a sê-lo, por qualquer motivo (qualquer um é licito e suficiente), simplesmente deixa de o ser. Se quiser afasta-se, o que acaba por acontecer naturalmente. Caso alguém teime em estar junto mas contra tudo e todos, a emperrar a evolução, tentando condicionar os outros e o Mestre, persistindo em pertencer a algo que não gosta e não quer (!!!), ainda assim, não há sanção a aplicar! Qual sanção? Não há. O mais que pode acontecer a um “chato” é o Mestre exercer a sua liberdade de não querer ser mais seu Mestre! Para quê, se está contra o que ele recomenda?! Pode acontecer que o Mestre e os colegas não queiram trabalhar mais com o que está contra eles, o que é legítimo e natural. Se a pessoa não exerce a sua liberdade de sair, os outros exercem a sua liberdade de o afastarem. É simples. Básico. Comum. Igual a outras áreas e situações da vida. É assim em qualquer grupo de trabalho, seja numa instituição religiosa, desportiva, filosófica ou com fins meramente lucrativos. Se eu não gostar e não quiser, saio. Se não sair mas continuar do contra, afastam-me. Aliás não há sanção mesmo quando as saídas sabem a ingratidão e até a traição. Custa mas é assim mesmo. Depois passa.

Liberdade Institucional

Uma coisa que as pessoas às vezes confundem ou não percebem são as questões institucionais, que no Yôga são exactamente iguais às outras áreas da vida. Aliás, o Yôga e os Yôgins são parte integrante da vida, não de um alienado mundo de sonhos e fábulas!


Na vida social a liberdade de uns acaba onde começa a dos outros. Há regras de conduta (jurídicas, éticas, morais, etc.), que impõem limites e restrições. Impõem ordem, estabelecem hierarquias, etc. É assim em qualquer comunidade, humana, animal, ou vegetal. É assim nos governos, nas empresas, nas instituições desportivas e religiosas. É assim entre mendigos (incluindo as comunidades de Sádhus – os homens santos renunciantes da Índia), e entre mafiosos. É assim no interior das prisões e cá fora. Na paz e na guerra. Nas estradas, num local de surf ou numa pista de dança. Até entre familiares, amigos, parceiros afectivos e sexuais! E, como é óbvio, também numa instituição filosófica.


A Uni-Yôga faz parte do mundo. Se alguém está há espera de um milagre ou de uma fábula cor-de-rosa talvez seja melhor procurar noutro local. Se quer realidade, em dose expandida e hiper consciente, então este é um bom local para se aprofundar.


Discipulo é aquele que segue uma disciplina, orientada por aquele que elegeu para esse fim. Mas temos sempre presente o seguinte sútra: A liberdade é o nosso bem mais precioso. No caso de ter de confrontá-la com a disciplina, se esta violentar aquela, opte pela liberdade.”

Regra básica de segurança


Esta é a regra básica de segurança, não só para o Yôga, mas para qualquer coisa na vida: Se eu quiser sair, ou deixar de fazer, ou de ser parte de algo, posso? Imediatamente e sem qualquer dificuldade? Se sim o que estamos a fazer é seguro. Não estamos presos. Podemos mudar e ir para outro sítio fazer outra coisa, de outras maneiras, com outras pessoas.Isso é Liberdade. A liberdade neste caso assegura-se pela negativa, por não ser obrigado a algo (pelo grupo, pelo Estado, pela família, pelos amigos…pelas tendências e impulsos subconscientes da própria personalidade!). Os grupos são tanto mais seguros quanto mais difícil é entrar neles e mais fácil é sair. Considero que a Uni-Yôga é seguríssima. É restritiva nas entradas. É muito exigente para quem quiser estar plenamente integrado. E para sair basta querer!


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