Yôga e liberdade II
Liberdade na relação Mestre - discípulo
A relação entre Mestre e discípulo é pautada por um valor supremo: a liberdade.
Primeiro: Mestre é um profissional. Um especialista que conhece profundamente uma arte ou técnica, o bastante para instruir e/ou supervisionar outros especialistas. Alguém a quem reconhecemos competência para nos orientar. E essa orientação é essencialmente inspiração. É a identificação que nos faz escolher esse Mestre. Queremos ser como ele, ou já somos. Dessa identificação de fins e meios nasce a União de um discípulo com o seu Mestre e vice-versa. Identificação quanto aos fins (Liberdade, Sámadhi, divulgação e dignificação do Yôga, defesa dos seus praticantes e profissionais, etc) e quanto aos meios (métodos: de Yôga, didácticos, profissionais, políticos, etc).
Dito isto…
Ninguém pode obrigar alguém a ser seu discípulo ou seu Mestre. Ninguém pode impedir ninguém de deixar de ser discípulo ou deixar de ser Mestre. O discípulo não pode obrigar o Mestre a ser como lhe vai dando mais jeito, nem o Mestre pode obrigar o discípulo a seguir seja o que for. Esta regra é básica e fundamental. Não há poder coercivo. Não há coação, logo cada um decide por si e para si, em cada momento. O poder é total de ambas as partes. É impossível uma parte obrigar a outra seja ao que for.
Se a certa altura um discípulo decide que não quer continuar a sê-lo, por qualquer motivo (qualquer um é licito e suficiente), simplesmente deixa de o ser. Se quiser afasta-se, o que acaba por acontecer naturalmente. Caso alguém teime em estar junto mas contra tudo e todos, a emperrar a evolução, tentando condicionar os outros e o Mestre, persistindo em pertencer a algo que não gosta e não quer (!!!), ainda assim, não há sanção a aplicar! Qual sanção? Não há. O mais que pode acontecer a um “chato” é o Mestre exercer a sua liberdade de não querer ser mais seu Mestre! Para quê, se está contra o que ele recomenda?! Pode acontecer que o Mestre e os colegas não queiram trabalhar mais com o que está contra eles, o que é legítimo e natural. Se a pessoa não exerce a sua liberdade de sair, os outros exercem a sua liberdade de o afastarem. É simples. Básico. Comum. Igual a outras áreas e situações da vida. É assim em qualquer grupo de trabalho, seja numa instituição religiosa, desportiva, filosófica ou com fins meramente lucrativos. Se eu não gostar e não quiser, saio. Se não sair mas continuar do contra, afastam-me. Aliás não há sanção mesmo quando as saídas sabem a ingratidão e até a traição. Custa mas é assim mesmo. Depois passa.
Liberdade Institucional
Na vida social a liberdade de uns acaba onde começa a dos outros. Há regras de conduta (jurídicas, éticas, morais, etc.), que impõem limites e restrições. Impõem ordem, estabelecem hierarquias, etc. É assim em qualquer comunidade, humana, animal, ou vegetal. É assim nos governos, nas empresas, nas instituições desportivas e religiosas. É assim entre mendigos (incluindo as comunidades de Sádhus – os homens santos renunciantes da Índia), e entre mafiosos. É assim no interior das prisões e cá fora. Na paz e na guerra. Nas estradas, num local de surf ou numa pista de dança. Até entre familiares, amigos, parceiros afectivos e sexuais! E, como é óbvio, também numa instituição filosófica.
A Uni-Yôga faz parte do mundo. Se alguém está há espera de um milagre ou de uma fábula cor-de-rosa talvez seja melhor procurar noutro local. Se quer realidade, em dose expandida e hiper consciente, então este é um bom local para se aprofundar.
Discipulo é aquele que segue uma disciplina, orientada por aquele que elegeu para esse fim. Mas temos sempre presente o seguinte sútra: “A liberdade é o nosso bem mais precioso. No caso de ter de confrontá-la com a disciplina, se esta violentar aquela, opte pela liberdade.”
Regra básica de segurança
Esta é a regra básica de segurança, não só para o Yôga, mas para qualquer coisa na vida: Se eu quiser sair, ou deixar de fazer, ou de ser parte de algo, posso? Imediatamente e sem qualquer dificuldade? Se sim o que estamos a fazer é seguro. Não estamos presos. Podemos mudar e ir para outro sítio fazer outra coisa, de outras maneiras, com outras pessoas.Isso é Liberdade. A liberdade neste caso assegura-se pela negativa, por não ser obrigado a algo (pelo grupo, pelo Estado, pela família, pelos amigos…pelas tendências e impulsos subconscientes da própria personalidade!). Os grupos são tanto mais seguros quanto mais difícil é entrar neles e mais fácil é sair. Considero que a Uni-Yôga é seguríssima. É restritiva nas entradas. É muito exigente para quem quiser estar plenamente integrado. E para sair basta querer!
No comments:
Post a Comment