Padrões morais múltiplos, paralelos e paradoxais.
Que a moral muda, que é diferente conforme ao tempo-espaço relativo, isso a maioria das pessoas não tem problemas em aceitar. O que ontem faziam as classes dominantes tendem hoje a querer imitar os que se seguem... O que as classes dominantes dizem ao povo para não fazer, fazem-no eles, em surdina. O que ontem era proibido hoje é moda. O que está bem (não) vestir na praia ou piscina, do outro lado do passeio pode ser considerado obsceno e provocativo. E por aí vai.
O moral são os costumes. Costumes são os habitos, o que se faz. O que se deve fazer, o que se pode fazer, conforme a prespectiva. Da moral retiram-se noções como Bem e Mal. Bem é o que se faz, o que se deve fazer, o que se pode fazer. Mal é o que não se deve fazer.
Em última análise, bem é o que nos convém e mal o que não nos covém. Seja a cada um, individualmente, seja a cada grupo, seja a um conjunto de grupos, a tal de sociedade, a humanidade. Bem é o que convém à Vida, mal é o que não convém à Vida. E cada um terá o seu bitaite a dizer sobre o assunto, que muitas vezes varia em cada momento. Com guerras santas pelo meio e tudo...
O que me tem feito pensar é a complexidade disto. Porque isto até é simples teóricamente. Mas na pratica complica-se. Complica-se porque somos muitos, muitas pessoas, muitos grupos, todos em mudança. Com possibilidades e necessidades que evoluem, com habitos que mudam. Com acções e reações em cadeia, a maioria das vezes com pouca consciência sobre o que se está a passar. Com mudanças que nunca mudam realmente nada. Com um perpetuo equilibrio que na practica exige permanentes reajustes, muitos deles tremendos. E a moral fica aí no meio de tanta gente, de tanto grupo, de tanta mudança, meio perdida. Hoje em dia é dificil dizer o que é bem e mal, o que está certo e errado. Como diz o meu pai “está tudo na moda”. Tudo vale. Quase tudo se aceita. Não, não se aceita. Se fragmenta, e cada um aceita ignorar os outros, e não se chateia muito até que a mostarda lhe chegue demasiado perto do nariz. É um relativismo e individualismo acentuado, que para mim é liberdade, para outros é demência. Que a mim me dá espaço para me encontrar e perder, vezes sem conta, e que a outros dá horror, exactamente pelo mesmo. Enfim, indo a um caso concreto.
Caso concreto
Os recentes anúncios de lingeri que estão omnipresentes pela cidade, nomeadamente da “Intimissima”, e ainda mais os da “Triumph”, puseram-me a meditar sobre este assunto. A questão da moral complexa, plural e paradoxal.
Veja-se um exemplo, os anuncios actuais da “Intimissima”. Uma mulher, belissíma, veste apenas uma lingeri branca numa pose ao estilo... “humm sinto-me tão...hummm...quero...”, algo por aí. Enquanto os homens babam as mulheres sentem, ou querem sentir, o mesmo. E compram. O que acho desde já interessante é o facto de a marca se chamar “Intimissima” e expor por todo lado mais público da cidade uma mulher em trajes menores numa pose de conteudo altamente sensual, provocativo mesmo. Coisa que a maioria das pessoas jamais faria em público. A própria modelo não o faria. Se a modelo, ou qualquer mulher, andasse assim (não) vestida em público muita gente não consideraria certo, bem, moral, e os homens que gostariam também não lidariam com isso como algo normal. Mas nos cartazes, bem grandes, bem visivéis, colocados para exibir bem a modelo e sua pose, é normal, ninguém se queixa, antes pelo contrário. Portanto não se trata de uma mudança de moral, ou de uma moral diferente relativa a tempo-espaço diferente. Trata-se de moral plural, paralela, múltipla e com uma bela dose de paradoxo à mistura. Morais diferentes coabitam no mesmo tempo espaço, nas mesmas cabeças.
Não é este um caso isolado.
Anúncios do genero, mas ainda melhores (para mim) têm sido exibidos pela marca “Triumph”. O actual, da modelo com lingeri vermelha a apelar ao espirito natalício, está óptimo. Mas o anterior, que está na imagem deste post, é ainda melhor. Quando cheguei de viagem, depois de alguns meses num ambiente mais...reprimido, e vi aquilo fiquei num estado... seria de choque, de apogeu, de excitação, de deslumbramento perante tanta beleza? Nem me lembro bem. Foi bom. E eu nem era o público alvo!
Não consigo deixar de me perguntar como a família da modelo, ou a própria modelo, encara a situação. Óptimamente suponho. Mas se a modelo usasse o seu corpo para fazer filmes erotico-pornográficos, que visam excitar as cebeças alheias, tentaria provavelmente fazê-lo sem que a familia e amigos o soubessem, com vergonha, provavelmente nem o faria. A modelo e sua família não achariam bem as pessoas andarem pelas ruas só com aquelas roupas vestidas, muito menos naquelas poses altamente sensuais. No entanto, muito provavelmente, a modelo encara muito bem o facto de lhe terem pago para exibir sensualmente os seus atributos fisicos, para chamar a atenção das pessoas, em cartazes gigantes por toda a cidade. Porvavelmente até gosta que os homens se babem e as mulheres a invejem e admirem. Muitas pessoas até o fariam sem terem de ser pagas para tal, se ao menos tivessem a desculpa, para dar a si mesmas e aos demais, de que “é um trabalho”, é “profissional”, é “arte”. É?!?
Por mim tudo bem. Óptimo mesmo.
Não sei dizer o que é bom, bem ou certo. Mas gosto de que “tudo esteja na moda”, de que tudo seja possivel, aqui e agora.
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